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A indústria moveleira tem vantagens com Milei na Argentina?

Revisado Natalia Concentino - 20 de Novembro 2023
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Aos 52 anos, o economista e professor, Javier Milei vai comandar a Argentina pelos próximos quatro anos a partir de 10 dezembro em meio a uma gravíssima crise econômica e tendo pela frente três desafios. Negociar um acordo de governabilidade, já que sua força política é mínima; criar um vigoroso plano de combate à inflação, e estabelecer negociação com o FMI e países credores, considerando que suas reservas cambiais estão zeradas, ou até negativas, condição que torna difícil dolarizar a economia. 

 

Em seu discurso de domingo à noite, Milei prometeu “mudanças drásticas”, sem gradualismo, sem entrar em detalhes. Seu plano econômico para o curto prazo não é claro ainda. E de acordo com alguns analistas ele terá pouco tempo para aplicá-lo e quase nenhuma margem de erro. Sua vitória pode ser vista em dois níveis. 

 

O primeiro é eleitoral: ganhou em 21 das 24 províncias. A segunda leitura é sociológica. Há um profundo esgotamento com a proposta peronista, além de um desencanto e raiva em relação às respostas econômicas e à alta inflação, para a qual parece não se encontrar uma solução. E há uma resposta que vem um pouco mais de atrás, ao que foi à pandemia, a quarentena, que não tiveram discussão aberta na sociedade, mas que impacta no voto jovem — parte importante do eleitorado que votou em Milei massivamente.

 

Milei se tornou conhecido por participar de programas de rádio e TV defendendo medidas radicais e libertárias na economia. Com um discurso contra as “castas políticas”, elegeu-se deputado em 2021. Entre as propostas de sua campanha estão a completa dolarização da economia argentina, o fim do Banco Central do país, a substituição da previdência social por um sistema de capitalização privado e a redução drástica do tamanho do Estado. As relações com o Brasil são uma incógnita, já que Milei, crítico do Mercosul, classificou o presidente Lula de “comunista com vocação autoritária”.

 

Reação do mercado

 

Na manhã desta segunda-feira (20), o mercado financeiro reagiu à escolha do candidato de perfil mais liberal. Ações de algumas empresas argentinas listadas na Bolsa de Valores de Nova York acumulavam alta de até 17% no “pré-market”, que antecede a abertura do pregão. Além das ações, os títulos argentinos também tiveram alta de 6% diante da vitória de Milei às vésperas do início das negociações oficiais em Wall Street, programado para as 11h30 do horário de Brasília.

 

Hoje é feriado na Argentina em comemoração ao Dia da Soberania Nacional, e por isso não terá operações do mercado financeiro e de câmbio. Assim, a reação do mercado americano à eleição de Milei na Bolsa de Nova York é vista como uma resposta à escolha do candidato libertário, uma espécie de termômetro do mercado financeiro. Empresas ligadas ao setor energético viveram um momento de euforia nas negociações que antecedem o pregão. A estatal YFP disparou 17,71%, enquanto a Pampa Energía teve alta de 12,41% e a Central Puerto acumulou aumento de 12,33% hoje.

 

No início das negociações de hoje, os papéis atrelados aos bancos também surfavam a onda de otimismo pela escolha de Milei ao executivo argentino. O Banco Macro foi a companhia que mostrou o maior resultado diante da notícia da eleição, com as ações subindo, no pré-mercado, 13,74% nesta segunda-feira, seguido pelo Grupo Financeiro Galicia (11,01%), BBVA Argentina (12,02%) e Grupo Supervielle (11,71%).

 

leia: Como os argentinos já dolarizam a economia por conta própria

 

Reação do setor

 

O que o a indústria moveleira pode esperar de Milei?

 

A vizinha Argentina tem apresentado um bom comportamento com a indústria moveleira nos últimos tempos. É o segundo parceiro comercial, atrás apenas dos Estados Unidos. Em 2022 as exportações de móveis para o vizinho renderam US$ 76,5 milhões, ou seja, 8% do total exportado e uma alta de 54% em relação ao ano anterior. Nos primeiros seis meses deste ano a evolução continua, com expansão de 30% na comparação com igual período de 2022 e um total de US$ 45,4 milhões, o equivalente a 10,8% do total comercializado no exterior. Uma participação expressiva, convenhamos.

 

A Movergs, entidade que congrega a indústria moveleira do Rio Grande do Sul, foi  detalhista na avaliação. A nota encaminhada à redação da Móveis de Valor diz: 

 

"A economia argentina vem apresentando altos e baixos desde 2011. Ainda que tenhamos fabricantes gaúchos de móveis vendendo para o país vizinho, esse mercado se tornou menos expressivo no que se refere a volume de compras. Na mesma linha estão os fornecedores da cadeia produtiva, como máquinas, componentes, acabamentos, entre outros segmentos que notam demanda no mercado da Argentina, mas enfrentam dificuldades nas negociações.

 

É cedo para se pensar em melhora ou piora da economia argentina, visto que o novo governo terá grandes desafios pela frente. De qualquer modo, desejamos que sejam traçadas políticas econômicas que favoreçam as relações comerciais entre Brasil e Argentina, especialmente da cadeia moveleira - tanto fabricantes quanto fornecedores".

 

Procurada pela Móveis de Valor, a Abimóvel enviou a seguinte nota:

 

"Historicamente, a Argentina tem sido um mercado importante para o mobiliário brasileiro, mas com uma participação que vem decaindo nos últimos anos. Desempenho, este, que esperamos seja positivamente revertido no futuro, com o crescimento da economia, do poder de consumo e das relações comerciais no país vizinho. 

 

Sobre a instauração do novo governo Argentino, com a eleição de Javier Milei, contudo, a ABIMÓVEL, na posição de representante do setor moveleiro brasileiro, acredita ser prematuro formular um posicionamento definitivo sem uma clara proposta de política que inclua o setor de móveis.

 

De todo modo, frisamos que nosso posicionamento é sempre de otimismo e favorável ao fortalecimento das relações comerciais no âmbito do Mercosul. Esperamos que os laços e acordos comerciais entre Brasil e Argentina se desenvolvam ainda mais, trazendo prosperidade para ambos os países. A ABIMÓVEL está comprometida em trabalhar com o governo argentino e outros stakeholders para promover um ambiente de negócios mutuamente benéfico.

 

Estamos atentos às mudanças políticas e econômicas e prontos para colaborar com nossas empresas no melhor planejamento e adaptação de estratégias a fim de maximizar as oportunidades para a indústria de móveis brasileira no mercado sul-americano e mundial.”

 

 

IRINEU MUNHOZ

Presidente da ABIMÓVEL

22 de novembro de 2023

 

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