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Líderes moveleiros avaliam necessárias medidas do governo

Por Natalia Concentino - 31 de Março 2020
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As medidas apresentadas pelo governo federal para minimizar o efeito da crise do Coronavírus e dar suporte às empresas, como prorrogação de pagamento de impostos, auxílio para pagamento da folha e empréstimos com juros menores, via BNDES, devem ajudar a maioria das indústrias moveleiras, segundo os presidentes dos sindicatos de Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo e São Paulo.

Irineu Munhoz, presidente do Sima – Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas, no Paraná, destaca que as medidas atuam em pontos importantes para os industriais. “A questão do auxílio ao pagamento da folha pode evitar demissão em massa num primeiro momento. Mas, se a quarentena se alongar, nem isso pode garantir os empregos”. Para Munhoz esta situação não tem precedentes. Ainda assim ele traça um paralelo com a greve dos caminhoneiros. “Na época ficamos um mês sem transporte e o impacto foi grande. Agora, em pouco mais de uma semana com o comercio e indústrias fechados, já computamos prejuízos semelhantes”, destaca, lembrando que a incerteza agora é maior.

Irineu Munhoz

 

Para Vinícius Benini, presidente do Sindmóveis – Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, as medidas têm direção correta, mas ainda é cedo para avaliar se serão suficientes. “Elas carecem de coordenação e implementação e esperamos que sejam rapidamente colocadas em prática”, afirma, destacando que o cenário ainda é muito incerto para uma avaliação mais precisa. “Imaginamos queda em torno de 50% no bimestre março-abril, mas, dependendo da duração da crise, ações de restrição de circulação de pessoas, fechamento do comércio e indústria e ainda os efeitos das medidas econômicas, o impacto pode variar”, afirma Benini, acrescentando que o setor moveleiro no Brasil já estava com dificuldades de recuperação devido à baixa atividade econômica. “Não crescemos em 2018 e 2019, mas em Bento Gonçalves, a indústria moveleira não teve queda no faturamento e o saldo de empregos ficou praticamente estável em 2019, com uma pequena queda (em torno de 1% na força de trabalho)”, lembra.

Vinícius Benini

 

Segundo Vinícius Benini, em Bento Gonçalves as indústrias continuam fechadas, mas ele destaca o esforço dos empresários para evitar demissões, optando pelas alternativas disponíveis no momento. “Implementação de medidas econômicas podem frear o desemprego nos primeiros meses da crise. Posteriormente se espera um ajuste na força de trabalho em linha com as expectativas de queda de produção. Estamos esperando a volta da normalidade apenas no segundo semestre, com recuperação da atividade econômica, a partir do 3º trimestre, e PIB crescendo só em 2021. Infelizmente, esperamos recuperar o nível de empregos de 2019 apenas no ano que vem”, prevê.

Ademilse Guidini, presidente do Sindimol – Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Linhares e Região, no Espírito Santo, também destaca que as medidas representam um bom começo. “Mas ainda não conseguimos avaliar o tamanho do impacto nas nossas indústrias. Vai depender muito da capacidade de cada um em ter acesso à estas linhas. De modo geral, dá uma certa tranquilidade saber que temos opções. Mas vamos avaliar com bastante critério”, enfatiza.

Em relação ao impacto da crise para as indústrias capixabas, Guidini lembra que algumas entraram em férias coletivas, outras suspenderam as atividades para compensação futura, e ainda há as que estão trabalhando com capacidade bem reduzida.

Ademilse Guidini

 

Quanto à abertura do comércio, o presidente do Sindimol afirma que está ansioso e que o governo do Estado manteve o fechamento até 4 de abril. “Somos solidários ao momento e à necessidade de proteção da saúde das pessoas, mas esperamos que a situação da pandemia se amenize o quanto antes para que possamos retomar nossas atividades, com a segurança necessária, mesmo que de forma gradativa”, destaca.

Fernando Hilgenstieler, presidente do Sindusmobil – Sindicato da Indústria do Mobiliário de São Bento do Sul, em Santa Catarina, afirma que as medidas propostas pelo governo só empurram a conta para frente. “Nós estamos solicitando ao governo que conceda isenção temporária dos impostos, ao invés de simplesmente prorrogar o pagamento por 3 meses,” justificando que o estrago já está feito e que a insegurança em relação ao tempo que a economia vai ficar parada só aumenta a angústia dos empresários. “Em São Bento do Sul as indústrias estão paradas e uma, que resolveu funcionar com capacidade reduzida, recebeu a visita da Polícia por conta de uma denúncia”, conta, destacando que falta ação coordenada entre União, Estados e Municípios.

Fernando Hilgenstieler

 

Aureo Brabosa, do Intersind – Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Mobiliário de Ubá, em Minas Gerais, tem posição alinhada com o presidente do sindicato catarinense. Para ele, prorrogar os impostos é o mínimo que o governo poderia fazer num momento como este. “Em relação ao pagamento da folha, não está claro se é apenas uma antecipação que terá que ser paga no futuro, ou se esse recurso vai sair do FAT ou do seguro desemprego. Além disso, os recursos no BNDES ainda não chegaram aos bancos”, lamenta.    

Aureo Barbosa

 

Maic Caneira, vice-presidente do SIMM – Sindicato da Indústria do Mobiliário de Mirassol, em São Paulo, vê as medidas como positivas, mas podem chegar tarde para alguns. “O Brasil tem uma dinâmica muito burocrática, o que dificulta a implementação das medidas”. Apesar disso, reconhece que as questões trabalhistas foram eficientes e ágeis.

Segundo ele, o polo paulista, embora não tenha restrições de prefeituras e governo do Estado para operar, está parado e a previsão de retorno é dia 13 de abril. “Além das preocupações com a saúde dos funcionários, muitos pararam por falta de insumos, dificuldades logísticas e interrupção de pedidos por parte do varejo”, afirma. 

Maic Caneira

 

Mais dúvidas do que certezas

Ponto comum entre os dirigentes são as dúvidas em relação à forma como serão implementadas as medidas propostas pelo governo. “Estamos avaliando com advogados e empresários o quanto estas medidas podem ajudar. Com certeza são alternativas interessantes que foram colocadas para os empresários, mas que devem ser analisadas com bastante cuidado para não se transformar em um problema maior no futuro”, destaca Guidini.

Munhoz critica a falta de informação na rede bancária. “Os recursos do BNDES não chegaram para ninguém e tenho receio que possa haver conflito de interesses”, acrescentando que para piorar o quadro, os bancos comerciais aumentaram as taxas e as exigências para emprestar.

Aureo Brarbosa também ressalta a falta de parceria dos bancos comerciais. “Espero que o BNDES, através da CEF, acelere a liberação de capital de giro para a indústria e para o comércio”. Até porque, a falta de liquidez do varejo é outro agravante, e tem gerado uma avalanche de pedidos de prorrogação de pagamento. “Estamos lidando com isso todos os dias”, afirma Hilgenstieler. O que, na sua opinião, deve levar ao fechamento de muitas lojas Brasil afora, caso a situação se prolongue.

Para Maic Caneira, o momento pede calma e parceria entre todos os elos da cadeia. “Certamente alguns ficarão pelo caminho, indústrias e lojas, mas o momento é de se colocar no lugar do outro e não se aproveitar da situação”, aconselha.  

 

As exportações também pararam

Se no mercado interno as incertezas são grandes, o quadro não é diferente para quem exporta. Com o fechamento das fronteiras tem empresas com containers parados nos portos. Hilgenstieler destaca que em São Bento do Sul, onde muitas empresas atuam com exportação, a situação é de incerteza. “As empresas não sabem quando a situação será normalizada aqui e muito menos no exterior”, afirma. Em Arapongas, que ocupa a terceira posição entre os maiores polos exportadores do País, a situação não é diferente. Munhoz lembra que tem empresas que concentram até um terço de sua produção na exportação e não tem previsão de quando vai voltar a negociar.

Para Benini, os choques de oferta e demanda causados pelo coronavírus na economia mundial impactarão fortemente as exportações de móveis e de toda indústria brasileira. “O tamanho da crise e a extensão ainda é cedo para avaliar”.

 

Oportunidade na crise  

Com o varejo fechado, poucas indústrias se sentem estimuladas a voltar a produzir. Portanto, o pleito dos dirigentes é pela volta gradual de todos os setores da economia. “Não adianta produzir, se o varejo não estiver funcionando. E mais, se não tiver consumo também não resolve”, observa Aureo Brabosa. Apesar disso, todos os entrevistados destacam que tem empresas produzindo e vendendo (pouco, mas vendendo). “Quem trabalha com e-commerce e com alguns segmentos, como decoração, não pararam totalmente suas atividades” pontua Munhoz.

Benini coloca uma luz na questão, lembrando que apesar da demanda reprimida no momento, assim que a situação se normalizar as pessoas voltarão a consumir. “Embora o mobiliário não seja um item de primeira necessidade, esse período com as pessoas em isolamento social pode, inclusive, gerar demanda futura para o setor moveleiro. Estando mais tempo em casa, as pessoas puderam notar a necessidade de troca de certos mobiliários ou mesmo o desejo de reformar”, acredita o dirigente gaúcho.

 

(Reportagem de Inalva Corsi - editora da Móveis de Valor)

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