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Mercado Livre faz ‘cortes’ no frete grátis para frear despesas

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O movimento vem pouco tempo após a companhia comunicar que expandirá a entrega no mesmo dia para 100 cidades

Em meio a um cenário de inflação de dois dígitos, ciclo altista de juros e projeções de recessão econômica, varejistas como o Mercado Livre estão ‘colocando o pé no freio’ nas despesas operacionais.

 

Recentemente a varejista optou por aumentar o “preço piso” do frete grátis. Antes, toda compra de itens de supermercado acima de R$ 79 não vinha com cobrança de frete. Agora, o frete grátis do Mercado Livre só fica disponível para compras de supermercado acima de R$ 199.

 

“O que acontece é que, quando você entra na página de detalhe do produto, nós calculamos suas possibilidades de envio. Nesse momento, analisamos o endereço que você tem salvo em Meus Dados e, se a distância do seu vendedor for muito grande e/ou o produto for muito pesado, em vez de frete grátis, você tem descontos tanto no frete normal como no expresso”, consta no site do Mercado Livre.

 

O movimento vem pouco tempo após a companhia comunicar que expandirá a entrega no mesmo dia para 100 cidades. Esse modelo de frete havia sido adotado somente em poucas capitais por alguns players, a fim de ganhar competitividade com uma entrega dinâmica.

 

Por conta de ter mais centros de distribuição (CDs) do que os concorrentes e visar mais serviços de logística – como entregas de avião, fruto de uma parceria com a Gol  – o Mercado Livre firmou essa meta ambiciosa, mesmo em meio a um ano dificultoso para o segmento de varejo.

 

No comunicado, do mês passado, a empresa cita que 2 mil cidades que já estão aptas a receber as compras em até um dia.

 

“Nossa missão de democratizar o comércio eletrônico passa diretamente pela logística e por oferecer uma entrega mais rápida em todo o Brasil. No primeiro trimestre de 2022, cerca de 54% das entregas da modalidade Full foram realizadas no mesmo dia”.

 

leia: Via testa tuk tuks para fazer entregas da Casas Bahia

 

Para Luiz Adriano Martinez, portfólio manager da Kilima Asset, o mais importante a ser analisado nesse aspecto é o fator macroeconômico que atinge as varejistas e o segmento de e-commerce. Para o gestor, a precificação atual é fruto, em grande parte, da questão macro atual, com juros mais altos e mudanças nos hábitos de consumo.

 

“Essas empresas de e-commerce cresceram muito suas receitas há pouco, e muita gente entendeu esse crescimento como algo duradouro, já se tinha uma projeção desse crescimento. Antecipamos um crescimento na pandemia, em pouco tempo, e por conta disso muita gente achou que esse comportamento iria seguir, mas o que vimos foi algo totalmente diferente, até temos uma certa ‘volta’ para o varejo tradicional”, afirma.

 

“Além disso você tem maior dificuldade de acesso a capital. As empresas que estão no ‘ciclo do negócio’ e dependem de caixa, de acesso a dinheiro para financiar um crescimento de receita, precisam fazer cortes no momento atual. Qualquer coisa que reduza custos, para poupar mais o caixa. Mas, isso tudo acontece em função da conjuntura macroeconômica”, segue.

 

Para o especialista, empresas como a Amazon – que são diversificadas e não dependem somente do varejo – acabam sendo mais resilientes no cenário atual.

 

“Mesmo que em um determinado segmento como o varejo, ela sofra, a empresa terá outra fonte de recursos e acaba saindo beneficiada em uma situação como essa que vemos atualmente”, segue.

 

Com custos em elevação, Magalu e Via também fazem cortes

 

Com os custos operacionais em alta, o Mercado Livre acabou decidindo elevar o preço mínimo do frete grátis.

 

Contudo, a decisão pela redução de custos operacionais está sendo feita por boa parte das empresas do segmento e tem sido mais ‘intensa’ com players nacionais, como Via  e Magazine Luiza.

 

A Via, por exemplo, está fazendo uma mudança no seu método de pagamento aos lojistas. Desde segunda (8), a empresa deixou de antecipar o pagamento, a fim de usar menos o seu fluxo de caixa

 

Junto com esse ‘corte’ da antecipação, a Via pagará com maior velocidade os lojistas que usam seus serviços de logística (fulfillment).

 

Vale lembrar que além do cenário altamente competitivo, com cada vez mais empresas disputando pelo mesmo consumidor, há uma retração nas vendas que também penaliza as empresas.

 

Os dados mostram um avanço de vendas no varejo de um modo geral, mas uma retração no segmento de e-commerce. Na última leitura do Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA), de maio, foram 6,9% de alta nas vendas, descontada a inflação. Em termos nominais, a alta foi de 23,9%.

 

Contudo, dados da MCC/Neotrust mostram uma queda de 6,4% em abril e 1% em maio nas vendas do e-commerce, meio que representa uma parte relevante do faturamento das varejistas, especialmente as que apostaram mais na digitalização. O Magazine Luiza, por exemplo, já somou mais de 60% do seu faturamento com vendas digitais.

 

leia: Via e Magalu fazem mudanças no marketplace por rentabilidade

 

Desempenho das ações do Mercado Livre

 

Com o cenário atual, as ações do Mercado Livre caem 46% na Nasdaq desde o início do ano, ante 53% de baixa na janela de 12 meses. A cotação atual é de US$ 708.

 

Já os BDRs do Mercado Livre caem 50% no acumulado de 2022 e 52% nos últimos 12 meses, acompanhando o pessimismo com o varejo e o cenário global.

 

(Com informações Eduardo Vargas para Suno Notícias)

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