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Em busca do Elo Perdido

Para os menos avisados devo dizer que o setor moveleiro nem sempre foi assim, isto é, há muitos anos houve uma época de ouro. Agora, precisamos encontrar o Elo Perdido.

Na teoria da evolução, Elo Perdido é o último ancestral comum aos chimpanzés e seres humanos. Depois dele, homem ficou sendo homem – até chegar ao Homo sapiens – e o chimpanzé continuou sendo chimpanzé.

No empreendedorismo, quando analisamos a história do setor moveleiro, Elo Perdido é um momento em que valores desapareceram e a batalha pelo mercado começou a ser marcada pelo quanto mais barato melhor, envolvendo, é bom que se diga, fabricantes e lojistas.

O que consideramos época de ouro? Ela começou na década de 1960 com a Móveis Vogue lançando o aglomerado no Brasil. Uma empresa de modulados, dona da Placas do Paraná. E, na sequência, surgiram ícones do setor como as marcas Cimo (que começou em 1913 e funcionou até 1982); Kitchens, a cozinha dos sonhos de 10 em cada 10 ricos no Brasil; Florense, que democratizou as cozinhas italianas por aqui; Oggi, o sonho das mães para o quarto dos filhos; Bergamo, o brilho italiano que deu sobrevida ao FF e que teve ações na Bolsa de Valores entre 1971 e 2005; Itatiaia, líder absoluta em cozinhas de aço e... ficamos por aí.

E foram, principalmente estas marcas, que nas décadas seguintes geraram centenas e depois milhares de outras, que por muito anos, ainda no século passado, enchiam os pavilhões do Anhembi em memoráveis feiras chamadas Fenavem. Falo da época do saudoso Omar Guazelli, que lançou a Fenavem em 1976, e que ao longo de dezenas de edições anuais se consolidou como o maior evento da indústria moveleira brasileira e latino-americana.

Estandes luxuosos, recepcionistas bonitas, whisky importado e muitas mordomias para os lojistas...

E a época de ouro, onde todos ganhavam dinheiro – empresas bem administradas ou mal administradas – como gostava de dizer o saudoso Lincoln César, presidente da Itatiaia – começava a desaparecer.

Das empresas desta época existem algumas remanescentes, é verdade, mas dezenas de gigantes do setor ficaram pelo caminho, com o novo modelo de negócios que começou no final da década de 1980: mais empresas no mercado, maior oferta de produtos, muita cópia e preços cada vez menores e prazos maiores foram minando os valores de até então. Começou a se pensar muito mais em produto do que em mercado, e o mercado respondeu migrando para outros bens de consumo. E assim perdemos o que hoje chega a 30 bilhões, considerando os 2% que o segmento representava no consumo das famílias contra o 1 e meio que representa hoje.

Cá entre nós: Para resumir a história, tinha eu a esperança, pelo que percebi durante a pandemia, que o evento traria de volta a época de ouro, considerando a nova maneira do consumidor enxergar os móveis. Muita ingenuidade minha.

O que vemos é o setor de volta à pré-pandemia, disputando um mercado estreito, a partir de preço menor e prazo maior, estreitando suas margens vendendo para gigantes do e-commerce que dão prejuízo aos seus acionistas, numa clara demonstração de um modelo fracassado e que leva junto muitos fabricantes. Não precisa e não deve ser assim. Mas, a busca pelo Elo Perdido continua, porém sem muita esperança de ser encontrado logo.

Obs. Diversas imagens antigas constantes no vídeo foram extraídas da dissertação na obtenção do título de Mestre em Design na Universidade Federal do Paraná de MARIA LÚCIA SIEBENROK

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