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Tenreiro é relembrado em significativa exposição da Casa Zalszupin

Por Gabrielly Zem - 29 de Outubro 2021
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Desde o dia 23 de outubro até 15 de dezembro a Casa Zalszupin será palco para a exposição mais significativa dos últimos 20 anos do designer e artista plástico Joaquim Tenreiro. Com cerca de 50 trabalhos e peças históricas entre móveis, pinturas e desenhos técnicos, a mostra Tenreiro traz intuição, cor e geometria através da curadoria de Ana Avelar e Jayme Vargas.

A mostra surgiu a partir da conjugação de diversos fatores, entre eles, o fato de não haver uma mostra significativa do trabalho do Tenreiro há muitos anos, o que contrasta com a importância e a permanência de sua obra. Outro ponto que incentivou a exposição foi a efetivação do acordo de representação entre a Etel Design e o Instituto Tenreiro que representa os herdeiros do artista.

Foto: Reprodução Casa Claudia

 

A exposição apresenta uma amostra da obra de Tenreiro percorrendo toda a sua trajetória, desde suas primeiras pinturas da década de 1930 até suas primeiras peças de mobiliário da década de 1940. A exposição também passa pela sua produção de mobília das décadas seguintes, que representam o período de maturidade de sua atividade como designer, até as suas obras de arte de natureza escultórica, relevos, colunas e fitas, que pertencem ao momento (a partir de 1968) em que o artista abandonou a criação de designer e passou a dedicar-se integralmente a criação artística.

A última exposição da obra de Tenreiro com essa abrangência aconteceu em dezembro de 1999, na mostra "Joaquim Tenreiro o Mestre da Madeira" realizada pela Pinacoteca do Estado de São Paulo. O que reforça a importância de relembrar agora, em 2021, o trabalho desse artista que foi fundamental para a construção do mobiliário brasileiro atual. “Tenreiro pode ser considerado o principal nome do processo de modernização do mobiliário brasileiro. Desde o início de sua atividade como criador de móveis, no começo da década de 1940, ele se engajou na superação dos estilos tradicionais de mobília, de traços ecléticos e historicistas, que prevaleciam até então”, conta o curador Jayme Vargas. “Ele definiu o seu trabalho a partir dos elementos formais do móvel moderno, como leveza, ausência de ornamentos, transparência, contenção formal, busca de linhas puras e informalidade”, completa.

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Tenreiro buscava trazer elementos de brasilidade para o móvel, como o emprego das madeiras brasileiras, que ele passou a conhecer em profundidade, e de outros materiais que ele julgava adequadas ao uso no país. “Ele teve uma formação múltipla, que incorporou a tradição da marcenaria artesanal da sua região natal ao norte de Portugal, a prática artística no Núcleo Bernadelli, um importante grupo de artistas sediados no Rio de Janeiro no início da década de 1930”, explica Vargas. “E ainda contou com a convivência com profissionais competentes e que tinham experiência no projeto e na confecção de mobiliário, com quem trabalhou em empresas importantes deste setor antes de iniciar a sua trajetória de autor”, continua o curador.

Móvel produzido por Joaquim Tenreiro 

 

O artista embasou a fabricação de móveis em sua formação na marcenaria de qualidade praticada pelo pai e pelo avô em sua região natal, na Serra da Estrela, em Portugal. “Embora tenha manifestado interesse em aderir a produção industrial, ele manteve o seu trabalho nos quadros da produção artesanal ou semiartesanal”, conta Vargas. O curador explica que este modo de fazer, que caracterizou também a produção do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, caiu em desuso a partir do avanço da industrialização do móvel brasileiro, mas tem sido recuperado por empresas e profissionais do ramo moveleiro, como é o caso da Etel Design, responsável, ao lado da Galeria Almeida Dale, pela constituição da Casa Zalszupin.

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Tenreiro sempre manifestou essa preocupação de trazer ao seu móvel características brasileiras. “Entre os atributos que ele buscou estão o conhecimento e o uso qualificado e capaz das madeiras brasileiras, a compatibilidade do móvel com as características do país, como o seu clima, o que resultou em peças como aquelas que empregavam a madeira e a palhinha, e que procuravam se afastar do uso de acabamentos e revestimentos adequados as regiões de clima frio”, destaca o curador. “Tenreiro tinha uma certa liberdade formal que se distancia em certa medida do racionalismo e do funcionalismo que muitas vezes tipificaram o móvel moderno internacional. E ainda a opção pela manufatura artesanal ou semiartesanal em contraponto à prioridade dada a produção industrial no contexto da mobília moderna internacionalizante, que se definia pela aderência aos estilos definidos como típicos de uma estética da era industrial”, conclui Vargas. 

Os curadores contam que a pesquisa e a prática curatorial que informaram a exposição antecederam em muitos anos a sua realização e foram aplicadas ao projeto expositivo assim que ele se viabilizou. “Me chama a atenção em seu trabalho, além da excelência de projeto e de execução, da sua alta expressividade criativa, a síntese que ele promoveu entre a sua formação, a sua prática de designer e artista e as circunstâncias do período histórico em que viveu”, destaca a curadora Ana Avelar.

O público-alvo da exposição é composto por pessoas interessadas nos temas de arquitetura, design e arte, profissionais destas áreas de atuação, estudantes e pesquisadores, além de pessoas interessadas na cultura brasileira e em sua história. Para visitar, é preciso fazer um agendamento com antecedência entrando em contato com a Casa Zalszupin.

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