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Covid-19 gera forte queda na atividade industrial

Por Natalia Concentino - 01 de Maio 2020
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Covid-19 gera forte queda na atividade industrial, afirma CNI

Os impactos da crise causada pela pandemia da Covid-19 são intensos e disseminados pela indústria. A queda da demanda forçou uma redução sem precedentes da atividade industrial, que levou a utilização da capacidade instalada ao menor nível já registrado na série mensal, que se iniciou em 2010. A crise também gerou uma piora significativa das condições financeiras das empresas, revertendo toda a melhora que vinha sendo construída ao longo de vários trimestres. Os setores de Móveis, Produtos têxteis, Vestuário e acessórios, Calçados e suas partes e Impressão e reprodução estão entre os mais afetados. Perfumaria, sabões, detergentes, produtos de limpeza e de higiene pessoal foi o único a não registrar, de um modo geral, queda em sua produção, em março. Farmoquímicos e farmacêuticos, Químicos e Alimentos registraram impactos negativos, mas menos intenso que dos demais setores de atividade.

Queda da produção em março é a mais intensa da série

A produção industrial caiu fortemente em março, prejudicada pelos efeitos da pandemia do novo coronavírus. O número de empregados também se reduziu. O índice de evolução da produção situa-se em 33,3 pontos, 16,7 pontos abaixo da linha de 50 pontos que separa queda e crescimento da produção. O indicador reflete uma queda em uma intensidade e disseminação nunca registrada na série mensal. O número de empregados também caiu em março. O índice de evolução do número de empregados também ficou abaixo da linha divisória de 50 pontos, em 44,6 pontos. Cabe ressaltar que apesar da forte queda na produção, a intensidade da redução no emprego foi inferior à apurada nos meses de março de 2015 e 2016. O motivo se deve, provavelmente à rapidez e surpresa da queda na produção e uma reação das empresas por meio de ajustes temporários como férias coletivas, banco de horas, redução de jornada de trabalho e/ou suspensão do contrato de trabalho.

Utilização da Capacidade Instalada é a menor da série

Os índices de Utilização da Capacidade Instalada (UCI) refletem a interrupção das atividades produtivas em decorrência dos efeitos da pandemia da Covid-19. O índice de UCI efetiva em relação ao usual, que procura medir o quão a atividade industrial está aquecida, recuou para 31,1 pontos em março. Valores abaixo de 50 pontos indicam atividade desaquecida. Esse é o menor índice da série histórica mensal, que tem início em janeiro de 2010. O percentual de Utilização da Capacidade Instalada (UCI) recuou 10 pontos percentuais (p.p.) entre fevereiro e março, para 58%. O percentual também é o menor da série. A peculiaridade dessa crise, em razão do desaparecimento do consumidor, é notada no comportamento dos estoques de produtos-finais. A paralisação das vendas resultou numa resposta imediata na produção. Não foi uma produção que diminuiu o ritmo em razão do acúmulo de estoques, mas uma resposta quase que instantânea à interrupção de quase todos os negócios na economia brasileira. Não houve sinal de atenção. O índice de evolução dos estoques ficou em 50 pontos, ou seja, manteve-se inalterado. Já o índice de nível de estoque efetivo em relação ao planejado ficou em 49,9 pontos, ou seja, mostra estoques no nível planejado pela indústria.

Piora significativa das condições financeiras

A situação financeira das empresas industriais piorou como consequência da forte queda do faturamento e da produção geradas pela pandemia. Com isso, os empresários passaram a mostrar profunda insatisfação com a situação financeira e a margem de lucro operacional de seus negócios no primeiro trimestre de 2020. O índice de satisfação com a situação financeira recuou 8,6 pontos, para 41,4 pontos. O índice havia alcançado 50 pontos no último trimestre de 2019 – o que não acontecia desde o quarto trimestre de 2012. A queda é a maior registrada entre dois trimestres consecutivos e levou o índice para o menor valor desde o segundo trimestre de 2016, no auge da crise econômica anterior. O lucro das empresas também foi afetado negativamente. O índice de satisfação com o lucro operacional recuou 8,6 pontos, de 45,8 pontos para 37,2 pontos. O índice também estava em patamar relativamente elevado no quarto trimestre de 2019: embora abaixo dos 50 pontos, o índice era o maior desde o primeiro trimestre de 2011 e acumulava alta de 5,7 pontos nos dois últimos trimestres. Com a queda, o índice passou a registrar a maior insatisfação com as margens de lucro desde o 3º trimestre de 2016. O acesso ao crédito, que vinha melhorando, se tornou muito mais difícil no primeiro trimestre de 2020. O índice de facilidade de acesso ao crédito recuou 9,4 pontos, de 43,2 pontos para 33,8 pontos. O índice vinha de seis altas trimestrais consecutivas, período no qual cresceu 6,3 pontos.

Falta de demanda torna-se o principal problema

Os principais problemas enfrentados no primeiro trimestre de 2020 explicitam as dificuldades enfrentadas pela indústria a partir da crise ocasionada pela pandemia da Covid-19. A falta de demanda, consequência das restrições ao comércio e do isolamento dos consumidores, assumiu a primeira posição no ranking de principais problemas, tomando o posto da elevada carga tributária. A assinalação subiu 6,2 pontos percentuais (p.p.), passando de 29,6 pontos para 35,8 pontos. A elevada carga tributária foi assinalada por 34% das empresas, o que representa uma queda de 9,6 p.p.. O último trimestre – e único até então, na nova série - que a elevada carga tributária não liderou o ranking de principais problemas foi no primeiro trimestre de 2015. Em terceiro lugar no ranking está a taxa de câmbio, com 28,9% de assinalações. Trata-se de uma alta de 12,2 p.p. na comparação com o último trimestre de 2019. A elevada instabilidade da taxa de câmbio e desvalorização da moeda brasileira explicam tal crescimento. A falta ou alto custo das matérias-primas ficaram na quarta posição, com 20,2% de assinalações. Esse percentual é explicado pela interrupção do fornecimento de certas matérias-primas, sobretudo oriundas da China, por conta da quarentena imposta naquele país no início do trimestre, assim como dificuldades logísticas e de produção devido as medidas de isolamento social adotadas no Brasil, ao fim do trimestre. Também como resultado da crise, verifica-se um crescimento nas assinalações em inadimplência dos clientes e falta de capital de giro, na quinta e sexta posições do ranking.

O forte impacto do novo coronavírus na indústria brasileira também é ilustrado na opção outros, onde os respondentes apontam, de forma espontânea, problemas não pré-identificados. Entre os empresários participantes desta edição da Sondagem Industrial, 14,3% citaram a crise da Covid-19 e suas repercussões (coronavírus, epidemia, quarentena e paralisação de atividades, entre outros) como um dos três principais problemas do trimestre.

Forte pessimismo dos empresários

Os índices de expectativas caíram fortemente no mês de abril e passaram a mostrar significativo pessimismo do empresário. Todos os índices apresentaram um recuo superior a 17 pontos na comparação com março, sendo que o índice de expectativa de demanda sofreu o maior abalo, registrando uma queda de 26,9 pontos. Essas quedas, assim como sua expressiva magnitude, eram esperadas devido à grande contração da atividade produtiva, em razão da pandemia do novo coronavírus. Os números de abril de 2020 representam o patamar mais baixo atingido por todos os indicadores desde o início de suas respectivas séries históricas, iniciadas em abril de 2007 para as séries de expectativa de demanda, de compras de matérias-primas e de números de empregados, e em fevereiro de 2010 para a série de expectativa de quantidade exportada.

 

 

Sobre a pesquisa

A Sondagem Industrial é uma sondagem de opinião empresarial realizada mensalmente e foi criada pela Confederação Nacional da Indústria para monitorar a evolução da atividade industrial, do sentimento do empresário e, consequentemente, da evolução futura da indústria. Os indicadores elaborados com base na Sondagem Industrial são importantes para a análise de curto prazo do desempenho da indústria brasileira, além de permitir avaliar o comportamento dos estoques de produtos elaborados, a situação financeira das empresas, os principais problemas enfrentados pelas empresas e as expectativas dos empresários. A pesquisa é realizada em âmbito nacional e em parceria com 25 federações de indústria. São elaborados indicadores estaduais, regionais e nacionais para diferentes portes de empresa. Também são elaborados indicadores setoriais nacionais.

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