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Morre o designer italiano Enzo Mari, "gigante" da Nova Tendência

Por Natalia Concentino - 20 de Outubro 2020
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“‘Ciao’, Enzo. Partes como um gigante”, escreveu nas redes sociais do museu o arquiteto Stefano Boeri, diretor da Trienal de Milão. Mari encontrava-se internado há dias no Hospital de San Raffaelle, na capital da Lombardia, noticiou a imprensa local.

Nascido em Cerano, na província de Novara, no Norte de Itália, em 1932, Mari frequentou a Academia de Belas Artes de Brera, em Milão, e fez todo o seu percurso na cidade, assumindo-se, desde o início, como um “firme defensor” da predominância da expressão artística do “design”, como “desígnio” da matéria, como expressão de vida. Marxista, opondo-se ao “marketing” do mercado, e à submissão aos seus princípios, acreditava na funcionalidade definida pelos utilizadores dos próprios objetos, que desafiava a montarem, no contexto da “autoprogettazione”, conceito que desenvolveu e que está na base do manual que publicou em 1974. Nesta obra, expõe a importância dos materiais e do processo construtivo, retirando ao consumidor o caráter passivo, que passa a beneficiário do objeto, do processo e da função que o define. No documentário “Homage to Autoprogettazione”, da Artek, disponível online, dedicado ao artista e ao seu percurso, Mari expõe as preocupações deste seu conceito, que são também as preocupações de uma vida dedicada à produção de mobiliário, aplicando na atividade de “designer” o conhecimento adquirido sobre aspetos funcionais e de carácter social.

Autor do célebre sofá-cama “Day Night” (foto) e das célebres cadeiras “Tonietta”, “Sedia” e “Sof Sof”, entre outros objetos chave da contemporaneidade, como a jarra “Camicia”, o calendário “Timor”, o porta-folhas “Sumatra”, o cesto de papéis “Inattesa” e o cinzeiro “Paros”, Mari é comummente definido como “um dos ‘designers’ mais inovadores” da segunda metade do século XX.

Sofá-cama “Day Night”

Um dos seus primeiros projetos foi porém um “puzzle” didático de madeira, para crianças, “16 animali”, concebido em 1957, para o fabricante de mobiliário Danese, de Milão. Concebeu também livros infantis, em parceria com a companheira, Lela Mari, como “A Maçã e a Borboleta”, “A Árvore” e “O Ovo e a Galinha”, que a antiga editora Sá da Costa chegou a publicar em Portugal. Vindos dos anos de 1960 e 1970, estes livros davam novas perspectivas à ilustração, permitindo leituras distintas, em função da idade e do grau de desenvolvimento da criança.

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Mari foi professor na Universidade de Parma, na Academia de Carrara, no Politécnico de Milão e no Instituto Superior de Arquitetura de Florença, na Escola Superior de Belas Artes de Berlim e na Escola de Artes Aplicadas de Viena. A sua obra está representada em coleções de museus como o de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA), da Galeria Nacional de Arte Moderna de Roma, no Museu da Trienal de Milão. Nos últimos anos, Turim e Istambul dedicaram-lhe retrospectivas, depois de presenças constantes nas bienais de Veneza, de Zagreb e na Trienal de Milão.

Recebeu o Prémio Internacional de Desenho de Barcelona de 1997 e, por cinco vezes, o galardão máximo do “design”, o Compasso d’Oro, quer por peças que definiu, como a cadeira “Delfina” e a mesa “Legato”, quer pelo trabalho de investigação que fez na área do ‘design’. A Real Sociedade das Artes do Reino Unido (RSI) atribuiu-lhe o título de “Honorary Royal Designer”, em 2000, e a Faculdade de Arquitetura de Milão concedeu-lhe o doutoramento Honoris Causa.

(Com informações do Observador)

 

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