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Móveis que causam desconforto em nome do meio ambiente

Por Natalia Concentino - 27 de Junho 2020

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FCB Lisboa e ANP|WWF transformam madeira queimada em móveis com memória. Uma iniciativa que pretende criar desconforto e não deixar tragédias recentes caírem no esquecimento.

A ANP|WWF descreve 2019 como um ano em chamas, que ficará na história devido a incêndios grandiosos em todo o planeta. A região Ártica, Austrália, Indonésia, Amazónia, Europa, Chile, Califórnia ou África Central sofreram eventos de extrema intensidade. E chega a uma conclusão preocupante: as políticas de combate aos incêndios a nível global estão condenadas ao fracasso – a única solução possível é a prevenção.

“A solução está na nossa mão”, diz a organização. “Apostar na prevenção em escala planetária: lutar contra as alterações climáticas, gerir o território, promover paisagens rentáveis e menos inflamáveis, reduzir os danos e travar o desmatamento nos trópicos”, diz um trecho do relatório.

A ANP|WWF apresenta a Pyros Collection, um conjunto de peças de mobiliário desenhadas e produzidas pelo arquiteto Nuno Lacerda (CNLL Architects) a partir de madeira queimada.

O projeto criado pela FCB Lisboa pretende lembrar as autoridades do que aconteceu e incentivar a prevenção. Trata-se de um conjunto de peças de mobiliário com design moderno e nomes alusivos ao tema: como mesa Ignis (incêndios), banco Lacrimae (lágrimas) ou mesa Devastio (devastação). Para Nuno Lacerda, conhecido autor e editor multidisciplinar nas áreas da arquitetura, design e cenografia. esta colecção é uma espécie de anti-design, um conjunto de peças que, “em vez de gerar conforto, pretende gerar desconforto”.

A ANP|WWF irá enviar uma das peças da colecção Pyros ao Ministro do Ambiente e da Ação Climática de Portugal, João Pedro Matos Fernandes. O intuito é simples: lembrar as autoridades dos incêndios de 2019 e incentivar o Governo a criar medidas de prevenção, que evitem no futuro tragédias de grande dimensão, como o incêndio de 2017 em Pedrógão Grande, que matou 66 pessoas.

Península Ibérica é vulnerável aos super incêndios

O relatório da ANP|WWF indica que, ano após ano, cresce a proporção de grandes incêndios em relação ao número total de sinistros. A alta devastação, o despovoamento rural, o abandono de usos tradicionais, a ausência de incentivos e políticas que possam gerir de forma coerente o território ibérico, aliados aos efeitos das alterações climáticas, constituem o coquetel perfeito para incêndios de alta intensidade, simultâneos e impossíveis de apagar.

A realidade é que o nosso planeta enfrenta uma crescente emergência climática que resultou num planeta em chamas. Esta crise de incêndios é a ponta do iceberg de uma muito mais ampla e grave para a humanidade: a crise climática. O relatório aponta ainda para uma relação entre o desmatamento e a perda de biodiversidade, com pandemias como a COVID-19. “Os incêndios, como principal ferramenta para a destruição de florestas, podem ser a receita perfeita para a propagação de agentes patogénicos. A proteção das florestas é a vacina mais eficaz e sustentável”, lê-se no relatório.

A ANP|WWF critica as políticas de combate contra os incêndios a nível global: “estão condenadas ao fracasso porque priorizam avançados dispositivos de extinção e ignoram os efeitos do aquecimento global e da acumulação de combustíveis à escala da paisagem”. O documento avança ainda com medidas de mitigação destes fenômenos, que passam pela elaboração de protocolos de segurança e operações, adotados entre todos os órgãos, que descrevam claramente as funções e responsabilidades de cada um.

Mas a melhor solução passa mesmo pela natureza: “Hoje, mais do que nunca, é imprescindível lutar contra as alterações climáticas e evitar uma subida de temperatura global superior a 1,5 °C. Para isso, temos de acelerar a transição energética para uma economia descarbonizada com medidas urgentes para obter uma energia 100% renovável e um transporte e alimentação sustentáveis. A crise económica causada pela COVID-19 pode ser uma oportunidade para colocar a natureza como pilar da recuperação econômica e que as medidas sejam orientadas a dar resposta à grave crise climática e de biodiversidade”, avança a organização.

(Com informações da Líder Magazine de Portugal)

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