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Polo moveleiro no Amazonas tem dificuldades para se desenvolver

Por Natalia Concentino - 20 de Janeiro 2020

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Apesar de ser uma importante atividade econômica no Brasil, com um movimento anual estimado em R$ 75 bilhões, a produção de móveis no Amazonas ainda enfrenta barreiras para se desenvolver. Afastado das regiões de maior concentração populacional e maior peso na economia brasileira, o estado enfrenta desvantagens em relação aos representantes do Sudeste e Sul, principalmente no que diz respeito ao transporte e logística.

Um dos fatores apontados por representantes do setor no Amazonas para a dificuldade de se criar um Polo Moveleiro no Amazonas está na concorrência com os polos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. O Estado importa a maior parte do mobiliário vendido no comércio, desses locais. O empresário Ivair Souto, da UG Estofados da Amazônia, por exemplo, importa madeira de reflorestamento de Santa Catarina e Paraná.

“Gostaria muito que fosse daqui, mas você não consegue madeira nem fornecedores de qualidade. O tipo de produto que fabricamos pede uma madeira que não seja muito dura, pois trabalhamos com grampeadores pneumáticos para dar velocidade no processo produtivo”, explica Ivair, completando que a logística também joga contra a produção de móveis no Estado. “As condições geográficas e econômicas dificultam a atuação do setor na Região Norte”, diz o empresário, que acaba comprando a madeira dos estados do Sul. A mercadoria chega em contêineres por via marítima.

A UG fornece mobiliário para grandes lojas do segmento no Estado, como Bemol e TV Lar. Na avaliação de Ivair, o mercado de móveis da região melhorou, mas ainda faltam incentivos fiscais, matéria-prima sustentável e mão de obra qualificada. Na empresa de Ivair, estão empregados 250 funcionários.

Iniciativas 

A falta de investimentos do governo no polo moveleiro da região é outra inconveniência observada por produtores do ramo. Em 2009, por exemplo, foi anunciado que o município de Tabatinga (mais de 1.100 quilômetros de Manaus) receberia aplicações para o desenvolvimento do setor, em uma obra orçada em quase R$ 600 mil, numa estrutura de 46 mil m² que produziria móveis de madeira de manejo sustentável, oriunda de Benjamin Constant e Atalaia do Norte. Até agora o projeto não saiu do papel.

Em nota, a Secretaria de Produção Rural (Sepror) explicou que os planos para Tabatinga foram “promessas de governos passados que geraram expectativas e não foram cumpridas”.

Projeto Promove

Atualmente, o principal incentivo do governo à atividade moveleira pertence à Agência de Desenvolvimento Sustentável (ADS). O Programa de Regionalização do Mobiliário Escolar (Promove) fornece móveis para escolas públicas por meio de parceria com 42 movelarias amazonenses. Das oficinas de 18 municípios do Estado, saem carteiras, quadros brancos, mesas, bancos, armários e outras peças. Em 2019, o programa movimentou R$ 6 milhões.

O presidente da ADS, Flávio Antony Filho, destaca que o programa tem gerado emprego e renda no interior, além de impulsionar o setor madeireiro no Amazonas. “Quem produz tem destino certo para os seus produtos por meio do Promove. São mais de 500 mil alunos da rede pública beneficiados com móveis de qualidade produzidos no próprio estado”, afirma.  

Para participar do Promove, o moveleiro deve ter regularidade fiscal, qualificação técnica, comprovação de que a madeira utilizada na produção dos mobiliários é oriunda de atividade sustentável, legalmente licenciada e autorizada pelos órgãos competentes. 

Dificuldades no interior 

Um dos moveleiros cadastrados no Promove é Carlos Santana, 63 anos, de Itacoatiara (distante 176 quilômetros de Manaus). O produtor trabalha com mobiliário há 40 anos e há 10 fornece para a ADS. Carlos reconhece a importância do programa para quem sobrevive da movelaria, mas critica o processo de credenciamento anual e a diminuição do programa nos últimos anos.

“Todo ano, quando termina o ano letivo, sofremos a duras penas para fazer o credenciamento, é uma tortura. Não priorizam o programa, acham que o interior não precisa dessas coisas, sendo que alguns municípios vivem em função desse projeto. Hoje são 18 municípios beneficiados, antes, eram 28”, afirma.

“Ano passado, por exemplo, começamos a produção só no mês de junho. Aqueles que dependem unicamente do programa ficam até 5 meses sem serviço. Ou seja, trabalhamos de 7 a 8 meses por ano”, diz Carlos, que estima que 60% dos móveis que produz vai para a ADS. O produtor consegue um faturamento de R$ 350 mil por ano.

Qualidade e ambiente

A qualidade da produção de móveis em madeira do interior também é alvo de dúvidas, mas Carlos garante que os produtos são de excelente qualidade. “Alegam que nosso móvel não tem qualidade, mas temos tanta qualidade que foi conosco que o governo conseguiu superar o déficit de produção de mobiliário para o Estado”, declara. 

Os móveis fornecidos pelo Promove, por exemplo, utilizam madeira de lei e MDF. Para o moveleiro, falta o governo construir a ponte e fomentar as relações comerciais entre os produtores do interior com a capital. 

“As secretarias precisam colocar esse produtor direto com os lojistas em Manaus. Os grandões querem engolir tudo. Se fomentarem o comércio e a produção industrial de mobiliário no interior, o estado vai se fortalecer na economia, trará renda para as pessoas e municípios”, avalia.

A burocracia para trabalhar com madeira nativa também é outra dificuldade enfrentada pelos pequenos produtores, já há pouca madeira certificada no mercado. “Hoje adotamos o MDF por conta das pressões ambientais, mas nós que produzimos, não depredamos, sabemos da importância de proteção ao meio ambiente, além disso, nosso potencial é pequeno. Quem depreda e acaba com a floresta são os grandes. O pequeno empresário apenas tira o necessário para a sobrevivência do negócio", esclarece. 

No Amazonas, as madeireiras são fiscalizadas pelo Instituto de Proteção Ambiental do Estado (Ipaam) a partir de denúncias e informações do serviço de inteligência do órgão. Segundo o Ipaam, a fiscalização é intensificada no segundo semestre do ano, quando a exploração madeireira cresce. 

O desafio no Amazonas é a consolidação de um polo apenas com madeiras certificadas, plantadas em um ambiente de produção sustentável, que não agrida o meio ambiente amazônico. A consolidação de uma política para o setor de forma responsável é aguardada pelos empresários da área. "Não queremos destruir a floresta, queremos ter condições de trabalhar com madeira legalizada. Há muita área desmatada que pode ser aproveitada para isso. Há um grande potencial na região, mas os entraves são enormes disse José Antônio Brasil, proprietário de uma pequena fábrica de móveis em Manaus.

(Com informações do emtempo)

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