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Produção estagnada de pinus preocupa setor

Por Jeniffer Oliveira - 30 de Agosto 2018
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Ao mesmo tempo em que a demanda por madeira pinus cresce globalmente, a produção nacional está estagnada. A situação já impacta preços e preocupa principalmente a indústria moveleira. “O mercado externo tem demandado mais e mais madeira. O plantio de pinus está concentrado no sul do País, região onde é mais difícil projetos de expansão, por concorrência da agricultura”, conta o diretor da consultoria Forest2Market do Brasil, Marcelo Schmid.

 

De acordo com estudo realizado pela companhia, baseado na análise dos dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), a demanda por pinus cresceu cerca de 15,4% em quatro anos, enquanto a produção de toras se manteve praticamente estável no mesmo período. “Os preços já estão ficando maiores para as toras usadas para chapas de compensado, utilizado em móveis”, afirma Schmid.

 

O levantamento da Forest2Market detectou um crescimento de quase 10% dos preços de toras de pinus no diâmetro 18 a 25 centímetros nos últimos quatro trimestres. As cotações do diâmetro de 25 a 35 cm aumentaram 20,8% desde o primeiro trimestre de 2015; mais da metade (11,4%) dessa majoração ocorreu nos últimos quatro trimestres.

 

O presidente da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), Diogo Leuck, explica que, por conta do desaquecimento da construção civil, houve uma queda do mercado moveleiro, o que desestimulou novas plantações. “Reduziu muito o consumo de madeira, chegou a cair 60%. Isso desestimulou os produtores, trouxe insegurança de plantar em novas áreas”, explica.

 

O presidente do Sindicato das Indústrias de Celulose, Papel, Papelão, Embalagens e Artefatos de Papel, Papelão e Cortiça do Rio Grande do Sul (Sinpasul), Walter Christmann, conta que o problema afeta mais o mercado de painéis de madeira do que o de celulose. “A indústria de chapas de madeira não está produzindo. Já a celulose é autossustentável”, complementa Christmann.

 

Leuck ressalta que, o corte para toras de diâmetro maior leva de 20 a 30 anos após o plantio, o que gera uma preocupação de falta de oferta em longo prazo. “Essa falta de estímulo atrapalha futuramente a qualidade para as serrarias. Vai haver demanda no futuro, mas o produtor fica inseguro de tomar a decisão de expandir”, afirma o presidente da Ageflor, explicando que a madeira serrada – de maior valor agregado – representa 60% da produção de pinus.

 

 

Legislação ambiental

 

Leuck destaca que outro fator limitante da expansão da produção é a insegurança jurídica causada por legislações ambientais estaduais. “Em alguns estados, há exigência de licenciamento do plantio de pinus, alegando alto potencial poluidor nesse tipo de cultivo. O mesmo tipo de burocracia não existe para nenhum outro tipo de produção agrícola, como cana e soja”, pondera.

 

De acordo com as entidades, essa exigência é mais rígida nos estados do Rio Grande do Sul e Minas Gerais. “Em São Paulo, é necessário o licenciamento em novas áreas acima de mil hectares e Santa Catarina e Paraná exigem um cadastro. Isso gera uma disparidade de competitividade entre os estados”, avalia Leuck.

 

Christmann afirma que a restrição impede que terras do Rio Grande do Sul que não teriam uso para agricultura fiquem ociosas. “Além disso, muitas ficam na clandestinidade, plantando sem licença e correndo risco”, acrescenta.

 

O presidente da Ageflor conta que há um projeto de lei no senado para excluir a silvicultura do rol de atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais. “Esse PL vai tentar trazer uma segurança jurídica ao setor. Até porque o impacto ambiental e a utilização de defensivos são bem menor do que em certas culturas agrícolas”.

 

Para Leuck, todo esse quadro acaba fazendo com que a atividade perca espaço para a agricultura e pecuária. “O produtor olha para um mercado e não vê retomada, com no mínimo cinco anos para fazer o corte e cheio de burocracias. É natural que ele migre para a criação de gado ou para o plantio de soja. Se esse quadro não for revertido, futuramente pode ocasionar o fechamento de empresas que consomem essa matéria-prima”.

 

(Com informações do DCI)

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