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Sem acesso ao crédito moveleiras de Pernambuco temem o pior

Por Natalia Concentino - 23 de Abril 2020
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Sem acesso ao crédito moveleiras de Pernambuco temem o pior

Empresários do setor moveleiro pernambucano afirmam que estão à beira de colapso. Com atividades paralisadas por falta de demanda, contas e salários por pagar, eles reclamam que sem crédito bancário muitas empresas do setor vão quebrar.

José Carlos Campos da Silva, dono da Movene, empresa com 30 anos de mercado, conta que tentou empréstimos em vários bancos e chegou até a oferecer como garantia o prédio da fábrica, situada em Jaboatão dos Guararapes, mas não teve sucesso. “Os bancos só querem emprestar para quem tem dinheiro”, reclama, acrescentando que o crédito tem sido dado com base no faturamento da empresa. “Os bancos não lembram que estamos vindo de três anos de crise, de uma recessão que já nos exigiu grandes sacrifícios”.

O presidente do Sindicato da Indústria de Móveis do Estado de Pernambuco, Vikentios Kakakis, diz que grande parte das indústrias não conseguiram pagar os salários de março e seguem sem capital de giro. “Elas precisam ainda pagar energia, segurança, manutenção, fornecedores e ninguém consegue recursos nos bancos, sejam públicos ou privados”, diz. “O que o governo ofereceu não se cumpriu”.

“Tentamos no Bradesco, no BNB, na Caixa. Nesta última é difícil até fazer contato. Quando não pedem certidões, usam a desculpa de que os recursos não chegaram. Vão emprestar a quem não precisa. E quem tem real necessidade não recebe”, lamenta.

O setor moveleiro, que conta com cerca de 400 empresas em atividade em Pernambuco, a maioria de pequeno e médio portes, iniciou o ano com boa expectativa, diante da curva de consumo que apontou para cima em novembro. Os problemas começaram no início de março, quando a situação com a pandemia foi se agitando. “Foi quando iniciaram os cancelamentos de encomendas e de pagamentos”, recorda Kakakis. Na sua empresa, a inadimplência bateu os 80%.

Retomada

Segundo Kakakis, o pós-pandemia preocupa o setor porque quem aderiu ao programa de redução de jornada se comprometeu a manter os funcionários por dois meses após a retomada, mas sem capital de giro, não há possibilidade de reiniciar a produção. Sem perspectivas de cenário futuro, muitos empresários não sabem se vão aguentar. “E quem precisar fechar a fábrica vai pagar uma indenização muito mais alta devido à multa do programa”, calcula.

Na sua empresa, a KM Indústria de Móveis, Kakakis optou pela redução do contrato de trabalho em 30%, mas preferiu paralisar as operações por falta de demanda. “Não adianta produzir porque as lojas estão fechadas. E acho que elas próprias também não vão aguentar, porque a maioria são de pequenos empreendedores que hoje só dispõem de R$ 600,00 para sobreviver e, também, não conseguem crédito”.

O empresário Elias Cezar, proprietário da Anatomic Colchões, situado no município de Pombos também passa pelo mesmo problema. “Os bancos pedem garantias, mas já comprometemos todas elas. As empresas estavam em dificuldade, a economia não tinha se estabilizado. Agora estamos à beira de um colapso. Já nem sei se seria melhor ter fechado a empresa antes ou depois da pandemia”, lamenta.

Com 115 funcionários, ele disse que não deu férias coletivas porque não tinha recursos e optou pelo programa de redução de salários. A produção de 13 mil colchões/mês está parada, assim como as encomendas que vinham de municípios de Pernambuco, Alagoas e Paraíba.

“O governo federal liberou mais de R$ 200 bilhões de compulsório para os bancos disponibilizarem mais recursos para emprestar, mas não disse quem deveria ser financiado, a que se destinaria, não regulamentou. E os bancos só querem emprestar para quem tem garantias. Ou seja, quem não precisa. As empresas não estão em ordem, estávamos saindo de uma crise. As ações podem ter boa intenção, mas estão mal estruturadas. O dinheiro não chega na ponta de jeito nenhum.”, lamenta Kakakis.

(Com informações do Movimento Econômico)

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