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Veja a evolução do móvel infantil ao longo dos anos

Por Natalia Concentino - 16 de Novembro 2020

Veja galeria de fotos acima

Mobiliários infantis são aqueles - fixos ou móveis - desenhados pensando nas crianças, seja de acordo com os seus princípios ergonômicos e anatômicos, ou de forma a assessorá-las da forma mais adequada. Seguindo essa linha, podemos identificar dois tipos de móveis: (1) aqueles que facilitam a relação entre o cuidador e a criança e (2) os que permitem que a criança os utilize de forma independente.

A grande diferença entre esses dois tipos é que os primeiros possuem dimensões que se adaptam à ergonomia do adulto e o segundo são projetados para atender às necessidades ergonômicas da criança, em cada etapa de seu desenvolvimento. Como o crescimento das crianças ocorre de forma relativamente rápida, é comum que os móveis deste segundo grupo sejam multifuncionais ou mesmo extensíveis.

Mas onde surgiram os móveis exclusivamente infantis? Há registros no Egito Antigo de que a cama foi a primeira peça de mobiliário projetada com dimensões adequadas para crianças pequenas. Só diferia da cama de adulto no tamanho, portanto ainda não era um berço.

Já na Grécia Antiga, o primeiro registro de mobiliário destinado às crianças tratava-se de um vaso posicionado sobre uma base alta com espaços para posicionar as pernas, uma de cada lado, no qual a criança poderia permanecer segura e limpa enquanto era supervisionada de longe. Outro marco importante conhecido, trata-se do período renascentista, quando famílias burguesas começaram a utilizar prateleiras à altura das crianças, principalmente com o objetivo de organizar seus livros escolares.

 

Até o final do século XIX, pode-se encontrar alguns registros de cadeiras de alimentação e de moisés para bebês desenhados por Michael Thonet, especialista em madeiras curvadas. No entanto, foi apenas no século XX que o tema entrou na pauta de importantes designers.

Até meados do século XX, boa parte dos integrantes da Bauhaus fizeram suas propostas de mobiliários para crianças, dentre eles: Gerrit Rietveld e Marcel Breuer. A seguir, reunimos registros de algumas peças do período: de Peter Keler, Alma Siedhoff-Buscher, Erich Dieckmann e Kristian Solmer Vedel.

No segundo quarto do século XX, o sucesso da pedagogia científica, proposta por Maria Montessori, fez intensificar a disseminação de mobiliário para crianças no período pós anos 1930. Em seu livro "A descoberta da Criança", a médica-pedagoga narra o momento em que decidiu resolver a dificuldade de encontrar mobília dimensionada à escala das crianças:

"Comecei, pois, a estudar um padrão de mobília escolar que fosse proporcionada à criança e que correspondesse à sua necessidade de agir inteligentemente. Mandei construir mesinhas de formas variadas, que não balançassem, e tão leves que duas crianças de quatro anos pudessem facilmente transportá-las; cadeirinhas, de palha ou de madeira, igualmente bem leves e bonitas, e que fossem uma reprodução, em miniatura das cadeiras de adultos, mas proporcionada às crianças. Encomendei poltroninhas de madeiras com braços largos e poltroninhas de vime, mesinha quadradas para uma só pessoa, e mesas com outros formatos e dimensões, recobertas com toalhas brancas, sobre as quais seriam colocados vasos de folhagens ou de flores". (MONTESSORI, 2017, pp. 51-52)

Coincidência ou não, grandes nomes da arquitetura mundial começaram a se dedicar ao desenho de mobília para bebês e para crianças pequenas. Alvar Aalto desenhou diversos móveis entre 1932 e 1934, assim como Jean Prouvé o fez em 1937. Dentre eles, as peças que mais são vistas em projetos de arquitetura infantil atualmente são as miniaturas das poltronas e cadeiras desenhadas pelo casal Charles e Ray Eames.

A partir da metade do século XX, muitos passaram a se dedicar ao estudo da ergonomia infantil e passaram a desenhar pensando, com mais profundidade, na escala humana das crianças. Ao fazer uma rápida pesquisa em seu buscador, facilmente encontrará peças desenhas por Marcel Gascoin, Harry Bertoia, Arne Jacobsen, Alexander Begge, Bruno Munari, Peter Opsvik (Tripp Trapp, Mini-max, Multi Balans, Balans, Globe Garden), Philippe Starck (Miniskool e Loulou Ghost), Karim Rashid, entre muitos outros. A foto abaixo representa a "Habitáculo", uma cama multifuncional para crianças desenvolvida por Bruno Munari, em 1971, que venceu o Prêmio Compasso d'Oro em 1979.

Os primeiros registros de mobiliários para bebês surgiram com o objetivo principal de aumentar sua segurança (e por conseguinte, diminuir os taxas de mortalidade bastante altas na época). Por isso, passaram a ser construídos moisés (atualmente mais chamados de co-sleepers) e berços. O fato de recém-nascidos dormirem separados de seus pais diminuía o risco de sufocamentos; e os guarda-corpos dos berços diminuía o risco de quedas. Além destes, começaram a surgir móveis mais confortáveis para que o cuidador da criança fizesse sua higiene (aqui refere-se aos trocadores) e cadeiras altas de alimentação que permitiam que as crianças se alimentassem junto à mesa, ou em separado a ela.

 

Mobiliário para crianças

Maria Montessori apontou que, durante a primeira infância, muitas necessidades pela busca de autonomia e desenvolvimento podem ser solucionadas através de um ambiente preparado (acessível e seguro) onde a criança possa circular livremente.

Com recentes comprovações de suas descobertas, principalmente por parte da neurociência, cada vez mais fala-se sobre o conceito de autonomia para crianças e, com isso, tende-se a abrir um mercado maior para empresas que desejem comercializar esse tipo de produtos: mesas para estudos, cadeiras (desde as mais simplórias até réplicas de design), camas baixas, estantes, prateleira etc. Além desses, escadinhas e torres de aprendizado possibilitam que a criança possa alcançar itens mais altos, como a bancada da pia, por exemplo.

O ideal é que o ambiente esteja sempre dimensionado de forma que a criança possa, na maioria das vezes, realizar atividades por conta própria e com segurança, incluindo móveis estáveis ​​(ou fixos) feitos de matérias-primas atóxicas. Além disso, é importante prestar atenção aos cantos desse móvel, evitando ângulos retos. Claro que a limpeza e a facilidade de manutenção são elementos que complementam as características essenciais dos móveis para crianças e bebés e vão ajudar também os pais.

 

Referências

VODENOVA, Pavlina. History of Children´s Furniture and Interior, 2019. Disponível aqui. Acesso em 20 outubro 2020.

MONTESSORI, Maria. A descoberta da criança. Pedagogia Científica. Campinas: Kíron, 2017.

 

*Este artigo foi escrito por Audrey Migliani e faz parte do Tópico do Mês do ArchDaily: Escala Humana.

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