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Alta dos insumos impacta a indústria moveleira

Por Jeniffer Oliveira - 26 de Setembro 2018

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Se a base da pirâmide passa por turbulências isso interfere em toda a estrutura produtiva. Aumentos elevados e sequenciais no preço dos insumos para a indústria de móveis têm impactado toda a cadeia moveleira e as consequências para o varejo também estão próximas, seja pelo aumento no valor do produto ou pela redução do mix, já que algumas peças são retiradas de linha maximizar os resultados.

 

De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de São Bento do Sul (SC), Fernando Hilgenstieler, o aumento no preço de diversos produtos usados na fabricação dos móveis, especialmente os importados ou que derivam de matérias-primas importadas, não eram esperados pela indústria e têm gerado grande dificuldade no controle de custos. Como consequência, ele afirma que haverá redução na margem de lucro, pois considera que nesse momento é inviável o aumento no preço para lojistas e consumidores.

 

O presidente do Sindusmobil admite que quase todas as moveleiras de São Bento do Sul estão tentando segurar os preços, muitas porque não conseguem repassar esses custos, mas o fato é que nenhuma delas é capaz de manter essa posição por muito tempo, principalmente sem comprometer a saúde financeira da empresa.

 

O presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (RS), Edson Pelicioli, afirma que o faturamento nominal do polo moveleiro local cresceu 5,3% entre janeiro e julho desse ano, na comparação com igual período de 2017. No entanto, afirma que considerando o aumento de preços e custo de produção o faturamento real fica negativo. “O setor tem sido impactado pelo aumento do frete, da energia elétrica e das chapas de MDF e MDP – essas últimas com um reajuste entre 5% e 10%, conforme apurado entre os associados do Sindmóveis. Existe, entretanto, um novo componente apertando ainda mais a composição do preço dos móveis, que é a alta nos preços dos acessórios”, acrescenta Pelicioli. A maioria dos acessórios possuem componentes importados e, por isso, são impactados pela variação do dólar, como dobradiças, corrediças, trilhos telescópicos, entre outros. Com a forte desvalorização do real frente a moeda norte-americana fica ainda mais difícil controlar a elevação destes preços.

 

“Quando considerado o reajuste das matérias-primas, a reoneração da folha e o impacto com o frete, ocorre um efeito em cascata muito significativo. Não sabemos por quanto tempo mais será possível segurar os preços na indústria”, alerta Pelicioli, acrescentando que se a recuperação do setor já tem sido lenta de maneira geral, em Bento Gonçalves é quase inexistente. “As incertezas vão do ambiente político ao econômico. O crescimento no faturamento nominal que o polo teve nesse semestre em comparação ao mesmo período do ano passado é muito inferior ao necessário para compensar a perda acumulada”, avalia.

 

Na mesma linha de pensamento vai o presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Mobiliário de Ubá (MG). Áureo Calçado Barbosa afirma que as indústrias estão sacrificando cada vez mais as margens de lucro e que essa situação é extremamente grave. “O que podemos fazer para impedir esses aumentos é muito pouco ou quase nada. A situação de custos no Brasil está caótica”, critica Barbosa, considerando que um dos principais fatores que levam a este cenário é a falta de políticas de mercado e de estabilidade de preço. O presidente do Intersind afirma que, além dos insumos importados estarem afetando diretamente os custos de determinadas matérias-primas, a indústria também está lidando com outros constantes aumentos no mercado interno, como dos combustíveis, que afetam diretamente os custos do transporte. “A principal preocupação é que todo e qualquer aumento de preço acaba diminuindo o poder de compra dos consumidores e isso afeta diretamente a indústria”, pontua.

 

Para o presidente do Sindicato da Indústria Madeireira e Moveleira do Vale do Uruguai (Simovale) e da Associação dos Madeireiros e Moveleiros do Oeste de Santa Catarina (Amoesc), Ilseo Rafaeli, o problema enfrentado pelas moveleiras não são os aumentos nos preços de insumos, pois ele os considera necessários, o problema real é a resistência do varejo em absorver esses valor. “O que não é justo é a indústria pagar sozinha, isso vai enfraquecendo as empresas. No nosso polo, por exemplo, ninguém está com volume de vendas baixo, mas a rentabilidade diminuiu muito”, explica Rafaeli. Apesar de acreditar na retomada da economia após o pleito eleitoral, Rafaeli acredita que o varejo de móveis pode passar por um desabastecimento entre novembro e dezembro próximos. “Os fornecedores estão aumentando os preços e, como o varejo não absorve esses aumentos, as fábricas estão reduzindo a produção. Todos estão se preparando para produzir menos, mas acredito que só pelo fato de ter uma definição política o consumidor vai ficar mais confiante e a demanda de fim de ano poderá aumentar, mas ninguém está preparado para isso”, projeta.

 

Na edição de setembro da revista Móveis de Valor publicamos uma matéria completa sobre o tema. Clique aqui para ler e confira qual tem sido o impacto pelo ponto de vista dos moveleiros.  Além disso, veja como o aumento da energia e dos painéis afetam ainda mais essa situação. O impacto no setor de colchões não é menor, é por isso que também apontamos como esses fatores refletem no segmento.

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