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Cambaleante mas ainda viva, Americanas imagina um futuro

Revisado Natalia Concentino - 20 de Novembro 2023
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Imagem: Freepik

A Americanas divulgou o tamanho do estrago causado pela fraude – e tentou vender uma visão de futuro depois que seu plano de recuperação for aprovado. 

 

Os highlights do balanço de 2022 – apresentado pela primeira vez hoje – e da reapresentação dos resultados de 2021 são: 

 

Patrimônio líquido: – R$ 26,7 bi 

 

EBITDA recorrente*: – R$ 2,4 bi (2021) e – R$ 4,1 bilhões (2022) 

 

Guidance EBITDA 2025*: R$ 1,5 bi 

 

Prejuízo líquido: R$ 6,2 bi (2021) e R$ 12,9 bi (2022) 

 

Dívida líquida: R$ 13,9 bi (2021) e R$ 26,3 bi (2022) 

 

Dívida bruta: R$ 27,6 bi (2021) e R$ 37,3 bi (2022) 

 

Guidance dívida bruta 2025: R$ 1 bi a R$ 1,5 bi

 

*Ex-IFRS (após custos de aluguel) 

 

Os números são horrorosos, mas não chocaram. “Finalmente temos um balanço, o que abre espaço para que o plano de RJ seja votado,” diz um credor. A expectativa da Americanas e de parte dos credores é conseguir convocar a assembleia de credores e votar o plano ainda este ano. Se o plano for aprovado, o endividamento poderia cair para o intervalo entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão – o que equaciona a estrutura de capital da empresa (sem considerar a venda de ativos como Hortifruti Natural da Terra). 

 

A maior dúvida é se a companhia é viável operacionalmente. O management apresentou um guidance positivo para o EBITDA de 2025, mas credores, gestores e analistas reagiram com ceticismo – pela projeção em si e pela disposição de fazer estimativas em meio a tantas incertezas. “Acho que a empresa se adiantou. Já é difícil fazer projeções para varejistas que têm um nível maior de certezas. Imagina para a Americanas,” disse um gestor. “A empresa só tinha esse nível de EBITDA quando estava manipulando os resultados,” diz outro gestor. 

 

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O CEO Leonardo Coelho admite que a meta é agressiva, mas explicou por que acha viável entregá-la. “A Americanas tem uma diferença para as demais empresas, que é uma grande disciplina de execução. Uma vez que o norte é dado, existe uma capacidade de implementar rapidamente,” Coelho disse ao Brazil Journal. 

 

Esse norte prevê uma operação mais racional que a do passado. O foco deixa de ser aumentar o GMV e passa a ser vender produtos com margem e de categorias em que a Americanas seja referência. As lojas físicas, que não têm vendedores, devem deixar de oferecer produtos que geralmente dependem de um vendedor para auxiliar o consumidor, como eletrodomésticos, notebooks e TVs de grande porte. A oferta desses produtos nas lojas implica altos custos logísticos e, quando não eram vendidos e ficavam obsoletos, precisavam ser vendidos na liquidação, com margem baixa ou negativa. Esses produtos devem ser oferecidos no online, mas, de preferência, via 3P. 

 

“O 1P está sendo discutido caso a caso com algumas indústrias em que faça sentido”, disse Coelho na call com analistas na manhã de hoje. No online, acabam também os grandes descontos, e o parcelamento e o frete precisam dar retorno. 

 

Além disso, ao vender nas lojas físicas produtos em que a Americanas é referência, a empresa passa a depender menos dos contratos de VPC, as verbas de propaganda. “O VPC precisa ser usado, mas não pode ser a estrela da operação, como era no passado”, Coelho disse ao Brazil Journal. 

 

A expectativa da empresa é que o online atinja o breakeven em 2025, e seja, segundo o CEO, “bem menor” do que era no passado e menor que a operação física. “A empresa está vendendo sonhos,” diz um gestor. Outra dúvida do mercado diz respeito ao posicionamento da auditoria externa, a BDO RCS. 

 

A auditoria se absteve de opinar sobre as demonstrações financeiras, informou não ter evidência “apropriada e suficiente” e disse não ter conseguido confirmar dados sobre estoques e custos de mercadorias vendidas. Segundo Coelho, parte das ressalvas se deve ao fato de que o balanço de 2021 sofre os efeitos da união das operações de B2W e Lojas Americanas, e as informações não estão completas, mas são as disponíveis. 

 

Sobre os estoques, Coelho informou que vai apresentar seu inventário até dezembro e, se houver ajustes nos estoques, serão feitos no balanço de 2023. Em relação à abstenção, CFO Camille Faria afirmou que está ligada à falta de um plano de RJ. “Sem isso, há dúvidas sobre a continuidade da empresa.” 

 

O plano de RJ que foi apresentado pelo management no call de resultados prevê uma capitalização de R$ 12 bilhões por parte dos acionistas de referência, a conversão de outros R$ 12 bilhões de dívidas em equities e uma série de descontos no pagamento das dívidas. 

 

Prevê também que parte dos credores volte a financiar a empresa via antecipação de recebíveis performados e volte a fornecer fianças.

Fonte: www.braziljournal.com

 

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