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Por que é importante agora ressignificar marca e produtos

Por Natalia Concentino - 26 de Outubro 2020
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Talvez o melhor termo a ser usado diante do atual cenário não seja reinvenção, mas “ressignificação”, mostrando que os produtos e marcas podem ganhar novos sentidos para manter uma relação saudável com o consumidor e conseguir se manter vivo com todas as mudanças tecnológicas e de conceitos que vem acontecendo nos últimos anos. Sabe aquela história de que em time que está ganhando não se mexe? Pois é... Não é bem assim que o mercado funciona.

Em várias edições do “Cá Entre Nós”, Ari Bruno Lorandi, CEO do Intelligence Group, chama atenção sobre os grandes descontos e as promoções permanentes. Será que a indústria moveleira sabe valorizar o seu produto ou ficou presa em um padrão antigo, achando que só os descontos é que fazem o negócio girar a seu favor? Se engana quem pensa assim, pois ter um preço mais baixo que os concorrentes já não é mais encarado como um diferencial que influenciará o consumidor na hora de escolher o produto. Lógico que o preço sempre será um fator relevante, mas ele não é o principal quando o assunto é a experiência.

Marcos Batista é um consultor com anos de mercado e vivência em diversas empresas que fez uma imersão em indústrias de móveis do Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Alagoas para entender quais eram as “dores” dos empresários e ajudá-los a ressignificar seu produto. “Eu fiz algumas parcerias com sindicatos e com o SEBRAE, que me permitiram conhecer de perto a realidade do setor moveleiro, que possui muitas indústrias familiares, em que a administração foi passando de geração em geração, sem que houvesse mudanças na forma de conduzir os negócios”, afirma.

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O consultor conta que existem 4 perguntas que sempre são feitas pelos empresários quando ele chega:

1 – Como ajustar a relação entre gerar uma ideia e produzir?

2 – Como atrair e conquistar clientes?

3 – Como gerar valor?

4 – Como se posicionar no mercado?

Marcos conta que sempre questiona sobre o que está faltando para que eles (os empresários) cumpram seus objetivos e, “na maioria das vezes, ouço que precisam de dinheiro, estrutura e tempo. Mas, na verdade, o que busco é fazê-los entender que em primeiro lugar o pensamento precisa mudar, a mentalidade da empresa deve ser trabalhada para encarar a nova economia. Hoje a questão não é só dinheiro e habilidades”.

O consultor prossegue: “Geralmente o que falta é uma mentalidade preparada para lidar com as demandas da nova economia, em que o planejamento já não tem o mesmo papel de antes, pois as coisas mudam muito rápido. É preciso pensar na ressignificação dos produtos e usar muito da experimentação para conquistar novos resultados”.

A ressignificação apontada por Marcos nada mais é do que dar um novo sentido ao que a empresa faz, pensar o produto de uma forma diferente e entregar o que o consumidor precisa. Os padrões estão velhos e devem ficar de lado. E isso fica ainda mais claro com o exemplo que é dado pelo especialista. “O Uber é um dos grandes cases de sucesso, porque conseguiu conquistar aqueles que já usavam táxi, mas também as outras pessoas que não estavam habituadas com esse tipo de transporte; eles ofereceram um serviço diferente, que atende às necessidades desses dois públicos pela forma como foi implantado”, comenta.

Marcos Batista, que já está acostumado a dar palestras ao público moveleiro, vai além na sua explicação. “Quando falamos em mudar a mentalidade, isso serve tanto para os líderes como para os colaboradores e é aí que esbarramos em um dos obstáculos mais comuns: o líder que ainda quer seguir o conceito de linha de produção. Os colaboradores podem e devem ter mais conhecimentos e habilidades para ajudar nesse processo de ressignificação, é preciso mudar a cultura organizacional”, enfatiza.

E esse ponto levantado pelo consultor é fundamental para que a forma como a empresa se comunica com o seu público seja diferente. “Tendo uma equipe multidisciplinar e conectada fica mais fácil de trabalhar o novo significado e ajudar a dar a experiência que o cliente está buscando. Essa equipe vai ter pontos de vista diferentes que vão ajudar na geração de ideias e experimentação”. Esse novo modo de pensar vai fazer com que a empresa não faça mais o “mínimo produto viável” – aquele que é possível, mas não o ideal – e passe a materializar as soluções de problemas, de acordo com Marcos Batista.

É aí que entra a valorização da mercadoria. “Quando se trata de um móvel, é preciso pensar em como as pessoas vão morar no futuro, como esse móvel fará parte de um ambiente, é preciso ter empatia e trabalhar a reputação da empresa. Se o seu ponto forte é a entrega rápida, por exemplo, você precisa mostrar isso ao seu cliente. Esse tipo de coisa dá valor ao seu produto e não o preço, porque desconto qualquer um pode dar, baixar os preços não é novidade nenhuma”, explica o consultor.

“A empresa precisa criar uma conexão com o cliente, oferecer a ele uma jornada de compra diferenciada. Não adianta vender um móvel assinado achando que isso vai dar o valor real à peça, é preciso pensar desde o momento em que o cliente entra em contato com a empresa até o momento da entrega. São várias as coisas que podem ser feitas para criar essa conexão e mostrar empatia, isso é que vai dar o valor, as pessoas passarão a comprar por saberem que seu atendimento é o melhor, que você se preocupa em como e em que tempo a mercadoria vai chegar até o comprador, que você pensou em um móvel que atende as necessidades atuais da população, entregando algo funcional, que gera bem-estar, que seja elegante e único”, resume o especialista.

O consultor faz questão de lembrar da expectativa x realidade que acontece em todas as compras ou serviços. “Tudo que você entrega tem que gerar um momento feliz, atingir ou superar as expectativas do comprador, dar uma verdadeira experiência de compra”, ressalta.

Mas para conseguir tudo isso existe uma fórmula a ser seguida? “Não, as coisas funcionam por meio da experimentação. O que funciona para uma empresa pode não funcionar para a outra, tudo depende de testes, por isso é imprescindível mudar a mentalidade. Com as mudanças acontecendo de forma cada vez mais rápida, com fatores inesperados atrapalhando a nossa rotina, como é o caso da Covid-19, não é mais possível fazer um planejamento e uma estratégia de longo prazo, você deve estar ciente de que os padrões não funcionam mais”, conclui Marcos Batista.

*Por Natalia Concentino, jornalista

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