Grávida de sete meses, criou um negócio de R$ 50 milhões por ano
Natural do interior de São Paulo, na região de São José do Rio Preto, a empresária Daniela Costa cresceu em meio ao setor moveleiro. Começou a trabalhar aos 15 anos na empresa da família, passou por todas as áreas e, aos 29, já era diretora administrativa. A experiência, conta ela, lhe deu domínio sobre processos e gestão, mas também despertou a vontade de construir algo próprio. “Eu sentia que era o momento de buscar um novo rumo, algo mais alinhado ao meu propósito pessoal”, conta. Com isso em mente, e depois de uma conversa com o irmão, a psicóloga de formação criou a Homedock, e-commerce de móveis e decoração.
“Nós dois queríamos ampliar o legado da família e estar mais próximos do consumidor final, entendendo o comportamento das pessoas e o que elas realmente buscavam em seus espaços”, diz Costa, que também enxergou no e-commerce uma oportunidade de expansão para um mercado até então dominado por lojas físicas e intermediários.
A estreia aconteceu num momento intenso da vida pessoal da empresária, que estava grávida de sete meses de sua segunda filha quando abriu a empresa, em 2013. Dois meses depois, a bebê nasceu e, dois anos mais tarde, veio a terceira filha.
“Como mulher, sempre senti que precisava trabalhar o dobro para chegar no mesmo lugar. O que me motivava era construir o futuro em que eu acreditava e mostrar às minhas filhas que é possível liderar, construir e realizar, mesmo com todas as dificuldades. A mulher que lidera é uma arquiteta social. Ela constrói relações e suporte. E quando há filhos envolvidos, isso se intensifica.”
Mesmo com os desafios da dupla jornada, o negócio cresceu de forma constante: mais de R$ 245 milhões em faturamento acumulado até 2024, com média superior a R$ 50 milhões anuais nos últimos cinco anos. Costa atribui o resultado à base herdada da indústria tradicional, combinada à agilidade de uma startup. “Sempre fomos pé no chão. Nosso foco nunca foi crescer a qualquer custo, mas ser rentáveis e gerar valor para todos os stakeholders, que são os nossos colaboradores, fornecedores, clientes e comunidade.”
Hoje, a Homedock opera com cerca de 35 funcionários diretos e outros 20 indiretos, em um centro de distribuição de 2.500 metros quadrados em Guapiaçu, cidade vizinha a São José do Rio Preto. A empresa mantém parceria com a indústria da família e com fábricas da região, além de fornecedores internacionais da China e da Índia. Um dos marcos do crescimento foi a mudança para o galpão atual, que ampliou o estoque e possibilitou importações. O segundo impulso foi a pandemia, quando o negócio dobrou de tamanho. “As pessoas estavam em casa e dispostas a investir no ambiente doméstico. Nós estávamos prontos. Tínhamos espaço, time e produto.”
Entre as inovações recentes do negócio, está a adoção do Bitcoin como meio de pagamento, uma das primeiras iniciativas do tipo no setor. “Queremos democratizar o design e o acesso à casa como espaço de cura e identidade. E democratizar não é só sobre preço, é sobre dar acesso a diferentes estilos e formas de consumo.”
A empresa também mantém ações sociais, como o projeto Dock2, que reaproveita produtos com pequenas avarias, e uma parceria com o projeto Teto, voltado à construção de moradias em comunidades precárias.
Para Costa, a Homedock é uma marca guiada por curadoria com propósito social. “A casa é o único lugar do mundo em que a gente pode ser quem é de verdade. E a decoração ainda é muito elitizada. Nosso trabalho é oferecer produtos com design, funcionalidade e preço justo para tornar o morar bem acessível.”
No campo da governança, a formação em psicologia da empresária facilitou a implementação de uma gestão humanizada na marca. A empresária conta que mantém canais abertos de diálogo com a equipe e conduz reuniões mensais chamadas “connect all hands”, nas quais compartilha resultados e decisões, além de investir em uma área dedicada à cultura e ferramentas internas, como o “Docflix” (um canal de notícias internas) e a “Plug”, plataforma gamificada de engajamento e carreira. “Eu acredito que adulto se trata como adulto. Transparência e diálogo são a base da confiança”, afirma.
“Meu compromisso é continuar fiel aos nossos valores: democratizar o design, gerar impacto positivo e mostrar que é possível crescer sem abrir mão do propósito”, diz Costa.




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