Tarifaço: Abimóvel recomenda prudência e planejamento
O móvel brasileiro exportado para os Estados Unidos ficou de fora da parcela de itens isentos da tarifa de 50%, aplicados a móveis de madeira, que constitui 80% do total, impactando indústrias com elevado grau de concentração de suas vendas no mercado norte-americano. O mobiliário de metal, que já vinha sendo taxado em 50% (não será sobretaxado) e móveis plásticos reforçados, foram contemplados. Antes do tarifaço, a média do imposto de importação em solo americano era de 10%.
Ano passado, 27% do total embarcado de móveis pelo Brasil tiveram como destino os Estados Unidos e quase 40% considerada toda a cadeia moveleira. A Abimóvel prevê a perda de 9 mil postos de trabalho ao longo de toda cadeia. Polos como de SC, RS, PR, SP e MG, que respondem por 99% dos embarques, já enfrentam cancelamento de pedidos. Outros estados, como BA, PE e PB e PA, também serão afetados.
Santa Catarina vendeu aos EUA em 2024 US$ 117,9 milhões, 47% de tudo o que o Brasil enviou. São Paulo aparece na segunda posição (25,4%) e Rio Grande do Sul em terceiro (17,8%). São Bento do Sul, Campo Alegre, Caçador, Fraiburgo e Rio Negrinho são alguns polos que mais serão atingidos com o tarifaço. Na média, concentram entre 36 e 64% de suas vendas para os EUA, contribuindo para que se torne principal mercado do móvel brasileiro.
Abimóvel em ação
A orientação neste momento é de prudência e planejamento, pede Irineu Munhoz, presidente da Abimóvel. “Recomendamos que as empresas avaliem junto a seus parceiros comerciais, alternativas de negociação e ajustes temporários de volume e prazos, enquanto mantemos uma intensa agenda institucional para tentar adiar e, se possível, reverter essa medida”, observa. “E que as indústrias busquem diversificação de mercados de exportação, aproveitando iniciativas como o Brazilian Furniture e outras ações de promoção comercial que temos em parceria com a ApexBrasil. Nosso objetivo é manter as portas abertas nos EUA sem deixar de explorar novas oportunidades internacionais”, enfatiza.
A Abimóvel trabalha em três frentes junto ao governo federal para atenuar as dificuldades:
1 - Diplomacia comercial ativa — solicitar que o Brasil busque, em diálogo direto com o governo norte-americano, um adiamento de pelo menos 90 dias na entrada em vigor da tarifa, para dar tempo às empresas de se adaptarem;
2. Medidas emergenciais de apoio — linhas especiais de crédito para capital de giro e financiamento à exportação, desoneração temporária de insumos e apoio à participação em feiras e rodadas internacionais;
3. Inteligência de mercado — atuação conjunta para identificar novos destinos e nichos que possam absorver parte da produção, reduzindo o impacto econômico e social desta medida.
“Estamos mobilizados para oferecer dados técnicos e soluções concretas, reforçando ao governo a relevância estratégica do nosso setor para a balança comercial”, afirma o empresário, que se considera realista com viés otimista em uma eventual reversão do quadro. “Sabemos que uma medida dessa natureza envolve fatores econômicos e políticos complexos, mas a história mostra que o diálogo institucional e o trabalho coordenado entre governo, setor produtivo e parceiros internacionais podem gerar resultados”, assegura.
Munhoz destaca que o setor é organizado, com representatividade e argumentos sólidos. “Estamos em contato direto com o Comitê Interministerial para buscar alternativas. Nossa postura é de resiliência e ação: trabalhar intensamente para minimizar danos, sem perder de vista a possibilidade de uma solução negociada”, conclui.
*Por Guilherme Arruda, jornalista convidado




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