Varejo recua em setembro e expõe fragilidade do consumo
As vendas no comércio caíram 0,3% em setembro, na comparação com agosto, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) divulgada pelo IBGE. O resultado, negativo em seis dos oito segmentos, reflete um ambiente de crédito ainda caro, renda pressionada pelo endividamento e menor geração de empregos, segundo economistas ouvidos pelo setor financeiro.
O desempenho ficou bem abaixo da expectativa do mercado, que projetava alta de 0,3%. Trata-se da quinta queda em seis meses, indicador de um varejo que oscila próximo da estagnação.
No trimestre, as vendas recuaram 0,4%, acumulando queda de 1,5% no ano, resultado distante do avanço observado no mesmo período de 2024. Para especialistas, o conjunto dos dados confirma uma desaceleração do consumo de bens, compatível com juros elevados e um mercado de trabalho menos dinâmico.
A disseminação da fraqueza foi clara. Entre as que tiveram retração está o segmento de Móveis e eletrodomésticos.
O avanço se concentrou em artigos farmacêuticos e de perfumaria (+1,3%) e em outros artigos de uso pessoal e doméstico (+0,5%), segmentos menos sensíveis ao ciclo econômico.
Segundo analistas, o recuo se aprofundou justamente nos setores que mais dependem de crédito e renda, como móveis, eletrodomésticos, informática e vestuário — todos mais voláteis e sentimentais à confiança do consumidor.
Regionalmente, o quadro também foi fraco: 15 das 27 UFs registraram queda no varejo restrito, com destaques negativos para São Paulo e parte do Sul. Norte e Nordeste mostraram resultados mais variados, mas insuficientes para mudar o cenário geral.
Perda de tração após início do ano mais forte
Para economistas, a tendência recente combina três fatores:
- Efeito dos juros altos, que encarecem crédito para veículos, construção e duráveis;
- Endividamento elevado, que comprime a renda disponível das famílias;
- Acomodação natural, após um primeiro semestre mais aquecido.
Mesmo com salários reais ainda crescendo, o maior comprometimento da renda com dívidas tem limitado compras de maior valor.
O que esperar daqui para frente
Apesar do ambiente desafiador, alguns fatores devem sustentar parte da demanda até dezembro: mercado de trabalho ainda resiliente; expansão da renda real; festas de fim de ano; programas e transferências públicas.
Para 2026, economistas apontam que o varejo poderá ganhar novo impulso com a reforma do Imposto de Renda, que tende a ampliar a renda disponível das famílias.
Em resumo, o varejo segue avançando — mas a passos curtos, num ambiente onde o crédito pesa mais, o orçamento das famílias encolhe e a confiança anda contida.
Contribuiu para esta reportagem: www.infomoney.com.br




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