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A saga para a venda da Via Varejo continua

Por Marina - 28 de Março 2018
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A dona da Casas Bahia e Pontofrio está atraindo olhares estrangeiros. À venda, a Via Varejo já chamou interessados como a Lojas Americanas e empresas multinacionais como a chinesa Alibaba e, mais recentemente, a americana Amazon. Com mais de 900 lojas e uma operação forte em comércio eletrônico, a companhia é um atrativo interessante para estrangeiras que queiram investir no Brasil. No entanto, desde que o Grupo Pão de Açúcar (GPA), controlador da Via varejo, anunciou sua intenção de vender o ativo, em novembro de 2016, ainda não houve negociações mais concretas. O que pode estar delongando as conversas?

 

De acordo com especialistas, as brigas internas entre acionistas, a crise econômica, da qual o país ainda não se recuperou totalmente e até os bons resultados apresentados pela companhia podem dificultar a venda. O Casino, controlador do GPA, está interessado em se desfazer do ativo. “O Casino não tem, globalmente, outras operações no segmento de eletrônicos e eletrodomésticos. O conhecimento na área é importante, porque esse setor é muito complexo e competitivo”, afirmou Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral do Grupo GS& Gouvêa de Souza.

 

Outra razão para querer vender a Via Varejo é o desempenho aquém do esperado da varejista. Em 2016, o Brasil estava no centro de uma crise econômica que derrubou as vendas no varejo, principalmente o de linha branca e eletrônicos. No ano, a companhia teve um prejuízo de 95 milhões. Porém, com a recuperação da economia, cortes de custos e melhora na eficiência, a companhia conseguiu reverter os resultados negativos e apresentou um lucro de 195 milhões de reais em 2017. “A retomada do mercado favorece o Casino nessa negociação. Ele pode negociar sem pressão de tempo para tomar uma decisão e em patamares de valores bem diferentes, hoje, do que os de 2016, quando o cenário era ruim”, diz Gouvêa de Souza.

 

Mesmo assim, para Jéssica Costa, sócia da consultoria AGR, “o crescimento da linha branca está voltando muito aos poucos e as varejistas estão sofrendo, com exceção do Magazine Luiza”. Ela lembra que o Walmart, concorrente do Grupo Pão de Açúcar, estuda vender a sua operação no Brasil por conta dos anos de prejuízo. “Para investir em um grande grupo brasileiro, o investidor precisa ter mais segurança do potencial do mercado brasileiro, diz ela.

 

Brigas e mudanças de mãos

 

Um entrave nas negociações podem ser as brigas internas, apontam especialistas. A Via Varejo foi criada a partir da união das operações da Casas Bahia, da família Klein, e a Pontofrio sob o guarda-chuva do Grupo Pão de Açúcar. Atualmente, o Grupo Pão de Açúcar detém 43,3% da Via Varejo, a família Klein é dona de 25,3% e 31,4% é negociado na Bolsa de Valores. Durante sua história, houve diversas brigas e discussões entre seus acionistas.

 

A Pontofrio, criada como Globex em 1946 pelo imigrante romeno Alfredo João Monteverde, foi comprada pelo Grupo Pão de Açúcar em 2009. No mesmo ano, O grupo anunciou a incorporação da Casas Bahia, criada em 1952 pela família Klein.A integração das adquiridas com as lojas Extra Eletro fizeram do grupo uma das maiores empresas de varejo do Brasil. Mesmo assim, a operação foi turbulenta: a família Klein se arrependeu logo depois do fechamento da fusão e exigiu uma renegociação e indenizações.

 

A discussão entre Abilio Diniz, então presidente do Grupo Pão de Açúcar, e a família Klein não eram as únicas a abalar o grupo. O empresário também tinha embates com os executivos do Casino, companhia francesa que detinha participação e, depois, o controle do GPA. A briga levou anos e custou quase meio bilhão de reais aos sócios até que, em 2013, Abilio deixou a presidência do conselho de administração do grupo.

 

Para Jéssica Costa, os desentendimentos internos podem deixar investidores inseguros em comprar o negócio ou firmar uma parceria. No entanto, a entrada de outro parceiro externo poderia dar um fim a essas discussões, acredita ela.

 

Divisão online e off-line

 

Um dos erros da Via Varejo, dizem especialistas, foi operar as vendas online e off-line separadamente durante anos e mudaram diversas vezes de nome e organização. As operações de comércio eletrônico já se chamaram Nova Pontocom e depois mudaram para Cnova Brasil, com a fusão da marca Cdiscount, do grupo Casino em 2014. Já o nome Via Varejo, que concentrava as operações físicas, só surgiu em 2013 quando a Globex Utilidades S.A., a antiga dona da Pontofrio, trocou sua identidade para esse nome.

 

As companhias Via Varejo e Cnova passaram anos operando separadamente as vendas físicas e online das marcas Casas Bahia e Ponto Frio. Ao operar separadamente, as duas empresas competiam entre si e ainda perdiam dinheiro, com estruturas duplicadas como equipe, logística, marketing e estoque para as mesmas marcas. A Cnova ainda sofreu um baque, em 2015, quando foram descobertas fraudes na gestão de estoques, que geraram perdas contábeis de R$ 400 milhões ao seu patrimônio.

 

Foi só em agosto de 2016 que elas resolveram se unir, com a incorporação da Cnova pela Via Varejo. Com a fusão, a empresa economiza cerca de 245 milhões de reais por ano. Além disso, melhora seus resultados e pode desenvolver serviços como a retirada em loja de compras feitas pela internet.

 

À venda

 

Depois da fusão entre as operações online e off-line, o Grupo Pão de Açúcar decidiu colocar a Via Varejo à venda. O processo começou em novembro de 2016 e desde então os resultados da divisão já são apresentados separadamente do negócio de alimentos do grupo, que concentra as lojas das marcas Extra, Pão de Açúcar e Assaí.

 

Entre as possíveis interessadas, estão brasileiras como a Lojas Americanas e empresas multinacionais como a Alibaba. O rumor mais recente é que a Amazon estaria interessada na companhia.

 

O GPA disse que o processo de venda da Via Varejo está em andamento e “não há nada material para divulgar neste momento”. Via Varejo e Amazon no Brasil não comentaram o assunto.

 

A Via Varejo pode ser um ativo interessante para os investidores. Resta saber quem irá fechar o negócio e escrever o próximo capítulo da empresa.

 

(Matéria publicada pelo Site EXAME, em 28 de março)

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