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Via prevê ganho de mercado, mas se prepara para tempos difíceis

Revisado Natalia Concentino - 10 de Março 2023
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Roberto Fulcherberguer, CEO da Via

A crise da Americanas neste início de ano, provocada pela revelação de “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões, abriu uma perspectiva de uma reorganização no cenário competitivo do e-commerce brasileiro, com analistas e investidores buscando saber quem sairá vencedor. 

 

Na Via, dona das bandeiras Ponto e Casas Bahia, não há dúvidas de que 2023 será um ano de ganho de market share. Mesmo assim, os executivos demonstram cautela com o ano que já começou, diante da deterioração do cenário macroeconômico, com desaceleração do consumo e juros em alta. 

 

Ainda assim, o CEO Roberto Fulcherberguer e sua equipe apostam nos efeitos dos ajustes que fizeram nas operações ao longo dos últimos anos, com os ganhos de eficiência operacional e o controle de despesas ajudando a aproveitar o vácuo que a Americanas começa a deixar. “É um ano desafiador, a Selic está bastante alta, mas a gente vem lidando e se preparando com isso buscando cada vez mais eficiência operacional”, afirma Fulcherberguer ao NeoFeed. “Tudo aquilo que a gente vinha investindo nos últimos três anos, começa a colher de uma forma cada vez mais acelerada.” 

 

O balanço do quarto trimestre, divulgado nesta quinta-feira, dia 9 de março, mostra que a parcela da Via no mercado online foi de 12,8%, mesmo patamar apurado no terceiro trimestre. Segundo Fulcherberguer, a companhia começou o ano ganhando market share, tanto no 1P quanto no 3P, eses último experimentando crescimento na casa dos dois dígitos desde dezembro. 

 

Ele destaca que ainda é difícil mensurar o quanto o enfraquecimento da Americanas fortaleceu a Via, mas disse que, independentemente das circunstâncias, a empresa está preparada para avançar no mercado através dos ajustes operacionais. 

 

“Tem um player saindo do mercado, mas ele ainda tem estoque, ainda está vendendo”, diz. “Mas nós preparamos nosso ano para ter ganho de market share.” 

 

Para isso, um dos principais ajustes feitos foi a mudança de estratégia realizada no início do ano passado no marketplace, com o espaço virtual cumprindo uma função de “cauda longa”, de venda de uma grande variedade de itens em pequenas quantidades, buscando mais frequência e recorrência do consumidor.

 

No quarto trimestre, o marketplace registrou crescimento de 79% no volume de pedidos ante o terceiro trimestre. “Estamos chegando num momento em que o 3P pode se tornar um dos grandes protagonistas para trabalhar a frequência do cliente”, afirma. 

 

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Ainda que o online esteja avançando, as lojas físicas tiveram destaque nos últimos três meses de 2022. A Via registrou um aumento de 16% de receita nas lojas físicas, em base anual. No online, o faturamento caiu 6% no 1P, menos do que a queda de 10,6% registrada no terceiro trimestre, também na comparação com o mesmo período de 2021. Considerando as lojas físicas e o online, a Via registrou um aumento de 6,8% 

 

“A Via estava preparada para interagir com o consumidor no local em que ele gostaria de estar”, diz o CEO. “Ele migrou mais para a loja no quarto trimestre e conseguimos fazer essa captura.” 

 

Ao mesmo tempo em que busca crescer sua participação no mercado, Fulcherberguer diz que Via quer se proteger da situação macroeconômica, com a alta da Selic já tendo efeitos negativos, especialmente na parte final dos resultados. 

 

A empresa fechou 2022 com uma posição de caixa, incluindo recebíveis de cartão, de R$ 6,2 bilhões, registrando uma geração de caixa operacional de R$ 3,4 bilhões no quarto trimestre. 

 

A questão dos dispêndios de caixa com despesas trabalhistas, que tem chamado a atenção do mercado, também foi citada como ponto positivo da Via em 2022. Em 2021, a companhia divulgou um guidance de impacto no caixa de R$ 1,5 bilhão a R$ 2 bilhões para 2022, e ela fechou o ano com R$ 1,2 bilhão. 

 

No caso da monetização de créditos tributários, ao final do ano, a companhia registrou R$ 2,4 bilhões, acima do guidance de R$ 1,8 bilhão divulgado no fim de 2021. 

 

Para 2023, o guidance para o impacto dos dispêndios trabalhistas está na casa dos R$ 700 milhões e a monetização deve seguir perto ou acima de R$ 2 bilhões. “Cada vez mais a gente abre caixa para a companhia”, diz Fulcherberguer. 

 

Com a preservação do caixa como prioridade, a Via revisou a quantidade de lojas que pretende abrir em 2023. No ano passado, a companhia inaugurou 63 unidades. Segundo o CEO, a companhia teria espaço para inaugurar entre 60 e 80 lojas, mas os planos foram revisados para, no máximo, dez lojas. 

 

A maior parte dos recursos seguirá destinada para tecnologia que, no ano passado, respondeu por 77% do total investido. “Esse investimento traz como contrapartida melhorar nosso nível de serviço para o consumidor e grande ganho de produtividade no nosso negócio”, diz.

 

Sobre a questão da inadimplência da área de serviços financeiros, Fulcherberguer afirma que “ela está absolutamente controlada”. No quarto trimestre, a carteira de crediário fechou em R$ 5,5 bilhões, com perda sobre carteira de 4,6%, enquanto no terceiro trimestre a carteira alcançou R$ 5,7 bilhões, com perda de 5,8% 

 

A Via fechou o quarto trimestre com prejuízo líquido de R$ 163 milhões, revertendo o lucro de R$ 29 milhões do mesmo período de 2021. A receita líquida subiu 9%, para R$ 8,8 bilhões, e o Ebitda ajustado somou R$ 629 milhões, queda de 1,9%. 

 

As ações encerraram o pregão de hoje com queda de 0,51%, a R$ 1,94. Em 12 meses, os papéis acumulam queda de 43,1%, levando o valor de mercado a R$ 3,1 bilhões.

 

(Com informações neofeed.com.br)

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