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Cearenses ainda esperam boa retomada do varejo de móveis

Por Natalia Concentino - 17 de Novembro 2020
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Mesmo registrando uma das maiores altas na venda de móveis no varejo no mês de agosto (47,2%), atrás apenas de Rio de Janeiro (54,6%) e Bahia que liderou o ranking de vendas do mês com 71%, o Ceará deve fechar o ano com números negativos nesse quesito, se comparado ao ano passado. Mas uma coisa é se basear somente em números e outra é ouvir quem está trabalhando na região para entender melhor o que está acontecendo e, foi por isso, que a reportagem da MV Norte e Nordeste conversou com alguns varejistas cearenses e com uma fabricante de móvel do estado.

Aliás, se nos baseássemos apenas nos números da economia do Ceará, o cenário não pareceria nada animador, já que a taxa anualizada do volume de vendas no varejo mostra expansão de 6,8% em todo o país, porém o estado nordestino tem taxas negativas com -14,8%.

Só que, mesmo com os dados apontados pelas recentes pesquisas do IBGE, os varejistas e a fabricante ouvidos pela reportagem, na média, estão mais otimistas quanto às vendas e a retomada econômica. “As nossas expectativas sobre a venda de móveis até o final do ano são excelentes. Com a forte parceria da companhia junto aos nossos fornecedores estamos conseguindo chegar ao ponto de equilíbrio no tempo de cobertura do estoque. Com o direcionamento do investimento em ações de marketing/PDV e um trabalho mais ajustado na gestão do estoque, esperamos alcançar excelentes resultados de vendas”, analisa Alan Oliveira, diretor comercial da Zenir Móveis que conta com quase 50 lojas.

Alan Oliveira, diretor comercial da Zenir Móveis

Quem também se mostra confiante é o diretor comercial do Solar Magazine, André Cordeiro, destacando que não devemos deixar de lado alguns fatores que podem complicar um pouco a situação. “Temos boas perspectivas que o mercado vai continuar aquecendo e permaneça em linha de recuperação. Para o ano de 2021 temos a expectativa de crescimento nas vendas. Porém estamos conservadores, cientes dos impactos da crise sobre a economia. Sabemos dos desafios da falta de matéria-prima e escassez de mão-de-obra”, analisa.

André acredita no potencial cearense e de sua empresa para superar esse momento difícil. “Acreditamos no potencial de nosso Estado, e temos convicção que estamos no caminho certo, investindo em novas tecnologias, e-commerce, controle e melhoria de processos, a fim de melhor atender o consumidor”.

Os irmãos Alexandre, Alfredo e André Cordeiro, proprietários do Solar Magazine

Antonio José de Santiago Pontes, sócio proprietário da Leleo Móveis, de Russas (CE), se mostra um pouco preocupado quanto à falta de produtos, que pode afetar as vendas até o final do ano. “Acredito que se não faltar produtos no estoque, as vendas serão muito positivas. E em se tratando de 2021 ainda estou um pouco receoso”.

E se a falta de produtos é uma das preocupações, José Edson Nogueira de França, diretor presidente da cearense Tuboarte Móveis, conta como está a situação em sua fábrica. “A produção está em ritmo extremamente acelerado. A procura cresceu de forma exponencial e consequentemente surgiram muitas dificuldades para atender essa demanda em razão de boa parte da matéria-prima e insumos que utilizamos no nosso processo produtivo serem importados. O mercado encontra-se desabastecido e isto tem sido o maior desafio do setor industrial, de continuar produzindo em grande escala para atender seus clientes. Sem contar que mesmo com a escassez de matéria-prima os aumentos não param de acontecer”, observa.

Na indústria o olhar já está no próximo ano, devido a tudo que vem acontecendo em termos de varejo, produção e matérias-primas. “O ano de 2021 para nós da Tuboarte Móveis chegou antecipado e desde o início de outubro já estamos trabalhando com vendas para os meses de janeiro e fevereiro. Acreditamos que esse aquecimento vai permanecer, por isso procuramos nos antecipar para garantir aos nossos clientes o abastecimento de produtos e as vendas qualitativas. Estamos preparados desde a estrutura física, máquinas e equipamentos, até mão de obra e logística. Tudo o que está ao nosso alcance procuramos potencializar, inclusive, nossos fornecedores que em nome de uma parceria confiável e sólida, mesmo diante do cenário de escassez, têm conseguido atender nossas necessidades”, explica.

Há um consenso de que o isolamento social foi o que mais agravou a situação da região. “A principal dificuldade foi o lockdown, pois foi um momento inédito para o varejo. A reposição de produtos pela indústria impactou diretamente o tempo de cobertura do estoque logo após a abertura do comércio. Vários setores ainda sofrem pela falta de matéria-prima”, observa Alan Oliveira, da Zenir.

“No primeiro momento, a falta de faturamento e a saúde dos nossos colaboradores foi o que mais nos preocupou.  Tivemos todas as filiais fechadas ao mesmo tempo, por mais de 75 dias. Com Isso, foi preciso nos reinventar. Investimos nas vendas pelo WhatsApp e redes sociais, além de anteciparmos o projeto do nosso site. Saímos do mundo off para o mundo online em um curto espaço de tempo. Não obstante, após a reabertura do comércio, veio à tona um outro grande desafio, que tem sido a escassez de matéria-prima em toda a cadeia produtiva, culminando na elevação de preços dos produtos em geral. Entramos em uma corrida árdua para reabastecer nossos estoques. Algumas indústrias tiveram dificuldades em retomar seus prazos de suprimento, devido à paralisação de suas operações”, expõe André Cordeiro, do Solar Magazine.

Leleo Móveis, em Russas (CE)

 

Assim como os varejistas tiveram dificuldades no abastecimento com a reabertura do comércio, o diretor presidente da Tuboarte conta que a empresa aroveitou para avaliar suas ações, processos, metas e objetivos. “Repensamos nossas estratégias e começamos a recriar, reinventar-nos e adotarmos novas metodologias de acordo com a realidade do momento. Procuramos ficar ainda mais próximos do nosso time de vendas, mesmo de forma virtual, levando a eles informações valiosas, encorajando-os a viver o momento com sabedoria e motivando-os a buscar a qualificação profissional através de cursos, palestras e lives”, relembra.

Ele completa falando sobre a relação com os comerciantes. “Diariamente mantivemos contato com os nossos clientes ouvindo-os e atendendo as suas solicitações. Com essas ações, a retomada tornou-se tranquila, afinal readequamos o nosso planejamento e envolvemos as nossas equipes em busca da melhor solução para todos”, destaca.

Aproveitando o tema lockdown, perguntamos aos entrevistados sobre como estava o abastecimento de móveis no varejo cearense. “Atualmente está mais equilibrado do que no início do período pós-lockdown, no entanto, alguns segmentos ainda têm bastante dificuldade devido à falta de matéria-prima”, afirma o diretor comercial da Zenir.

Sobre a Black Friday e o Natal ele completa: “Em nível macro, o estoque está mais equilibrado. Casos pontuais com risco de menor equilíbrio estamos ajustando para melhor disponibilidade nesse período”.

André, do Solar Magazine, também comenta sobre o abastecimento e as datas de promoções e comemorativas que estão por vir. “O abastecimento continua com dificuldade, como a indústria não vai conseguir abastecer como precisamos, acreditamos que não teremos um novembro e dezembro com grande incremento de vendas pela falta do estoque. Para se fazer a Black Friday como as versões anteriores precisaríamos estar com o estoque mais elevado”, opina.

José Edson Nogueira de França, diretor presidente da Tuboarte Móveis

Já o diretor presidente da Tuboarte apresenta o lado da indústria no caso do abastecimento e da Black Friday. “Até o momento conseguimos atender todos os nossos clientes por termos ingressado nesse momento delicado muito bem abastecidos de matéria-prima. Houve a necessidade de contratarmos um bom número de profissionais para somar ao nosso time e aí passamos a trabalhar também no horário noturno. Aumentamos a nossa frota e estamos conseguindo com êxito excelente resultados”, conta. Ele ainda acrescenta: “Por experiência, já sabemos o sucesso que tem sido a Black Friday em anos anteriores e assim já temos um planejamento específico para este período. Ajudamos o nosso cliente a realizar seus agendamentos antecipadamente e assim garantir uma venda de qualidade com a certeza de uma entrega confiável”.    

Planta fabril da Tuboarte

Sobre os dados do IBGE, Antonio José, da Leleo Móveis, diz que “nas lojas de móveis as vendas estão ótimas”. Porém Alan Oliveira e André Cordeiro se aprofundam um pouco mais no assunto e apontam o que levou o varejo a ter um desempenho abaixo do esperado.

“Acho que um dos fatores que acabou gerando esses números foi o longo tempo de lockdown no nosso estado e a ruptura de produtos na categoria”, salienta Alan. O diretor comercial do Solar Magazine acrescenta mais algumas observações como justificativa para um possível fechamento do ano negativo nas vendas de móveis: “Acreditamos que o fechamento total do comércio no estado, na contramão de outras regiões, impactou diretamente na redução das vendas. O posicionamento geográfico e barreiras sanitárias também influenciaram na logística de abastecimento”. 

Mas todos concordam que agora a meta é buscar recuperar as vendas perdidas.

* Por Natalia Concentino, jornalista

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