Consumidores antecipam compras, por isso Black Friday foi ‘morna’
As varejistas acertaram em parte na estratégia de antecipar as promoções e fazer uma “Black Friday prolongada” durante o mês de novembro, pois as vendas na sexta-feira (25) foram de “mornas” a ruins, indicam diferentes levantamentos divulgados entre sábado e segunda-feira (28).
Ainda que analistas tenham destacado a dificuldade de comparar dados com anos anteriores, porque neste ano a data caiu no meio da Copa do Mundo (e no dia seguinte à estreia da Seleção Brasileira no torneio), as ações das varejistas brasileiras estavam entre as maiores quedas da bolsa nesta segunda (28).
O InfoMoney tem mostrado, desde outubro, que as empresas estavam se preparando para a data levando 100% em consideração o “efeito Copa” — antecipando parte das promoções, mas ao mesmo tempo tentando se aproveitar do maior torneio de futebol do planeta. O receio era que a Black Friday, que é uma das mais importantes do ano para o varejo nacional, fosse ofuscada pela Copa do Mundo.
Vendas crescem no ‘esquenta’
A Linx, empresa que fornece tecnologia para o varejo, diz que a Black Friday deste ano “confirmou a previsão de diluição de compras no decorrer do mês de novembro”. As vendas na data “oficial” não subiram em volume em relação ao ano passado, segundo a empresa, mas em compensação as vendas no varejo físico subiram 9% no mês até a Black Friday (entre os dias 1º e 24 de novembro).
“Com os dois eventos acontecendo simultaneamente [Copa e Black Friday], e a oferta dos varejistas com promoções antecipadas, foi registrada menor concentração no dia oficial da Black Friday, conforme antecipamos”, afirma Tiago Mello, chefe de produto e marketing) da Linx.
A empresa não informou o desempenho do e-commerce no “esquenta” da Black Friday, só das lojas físicas. Também não disse se as vendas na data em si ficaram estáveis ou se retraíram (apenas que “não cresceram”). A Linx tem 45% do mercado de software de gestão para varejistas.
Já a NielsenIQEbit disse que o faturamento bruto no e-commerce cresceu 8% nominalmente (sem considerar a inflação) nos sete dias anteriores à Black Friday, na comparação anual. Os itens com as maiores altas foram os alimentos, em especial a carne (o que pode ter sido causado pelo “efeito Copa”).
Black das roupas, não da Copa?
O Reclame Aqui afirmou em seu balanço sobre a Black Friday que a Copa “desacelerou a maior promoção do varejo brasileiro, provocando o desinteresse do consumidor”. “O resultado foi uma Black Friday morna, cheia das mesmas promoções que o consumidor já conhece”.
“Sem grandes descontos em produtos que o público já sinalizava interesse desde o mês de agosto — eletrodomésticos, linha branca, eletroeletrônicos e eletroportáteis —, os brasileiros que resolveram quebrar o porquinho para comprar, adquiriram itens como calças, blusas, calçados, camisetas e até perfumaria”, disse a empresa. “Assim, a Black, que era para ser a da Copa, se tornou a Black Friday do ‘Lookinho’.”
Edu Neves, cofundador e CEO do Reclame Aqui, disse em nota que “o jogo do Brasil atrapalhou a estratégia das empresas na Black Friday” e “afetou o interesse dos consumidores na data” (as reclamações no site chegaram a cair 80% durante o jogo do Brasil contra a Sérvia, na quinta).
Queda de 28% no e-commerce?
A Neotrust, empresa que monitora o e-commerce brasileiro, tem números bem mais alarmantes: diz que o varejo virtual teve uma queda expressiva de 28% no faturamento na sexta-feira (25), na comparação com 2021 (quando o setor já havia caído 1%).
A empresa diz que foram pouco mais de R$ 3,1 bilhões em vendas, o pior resultado para a data desde que ela foi “importada” dos Estados Unidos e passou a fazer parte do calendário do varejo nacional. Diz também que a queda foi generalizada: de 5,9% no valor do tíquete médio das compras, de 17% no preço médio, de 13,5% na quantidade de produtos vendidos e de 23% no número de pedidos.
“O rescaldo das promoções no sábado também não engatou no país”, segundo a Neotrust, e as vendas no primeiro dia do final de semana registraram queda de 4,3% na comparação a 2021. Mesmo assim, Paulina Dias, gerente de inteligência da Neotrust, diz que o pós-Black Friday garantiu o posto de “melhor” dia de vendas, na comparação de variação no faturamento em relação ao ano passado.
“Percebemos a recuperação de algumas categorias que não foram bem na sexta-feira, como telefonia, automotivo e eletroportáteis, e crescimento em categorias que já estavam bem, como beleza e perfumaria, games e alimentos e bebidas”, afirma Dias.
Também há dados positivos
Nem tudo foi notícia negativa para o setor. Segundo a Cielo, as vendas no varejo subiram 6,9% na Black Friday na comparação com 2021: alta de 5,4% nas lojas físicas e de 21,1% no e-commerce (dados bastante diferentes dos registrados pela Linx e pela Neotrust).
O segmento que mais se destacou foi drogarias e farmácias (crescimento de 25,9% nas vendas), seguido de turismo e transporte (+25,1%), cosméticos e higiene pessoal (+22,2%) e alimentação – bares e restaurantes (+18,6). A Cielo diz que dos segmentos mais significativos para o varejo, o único que teve retração no faturamento foi móveis, eletrodomésticos e departamento (-3,6%).
(Com informações InfoMoney)




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