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Depois de queda histórica em 2020, inadimplência deve subir

Por Natalia Concentino - 19 de Março 2021
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O ano de 2020 registrou, pela primeira vez em quatro anos, uma queda no total de brasileiros inadimplentes. O montante de negativados em dezembro de 2020 chegou a 61,4 milhões, 3,1% a menos com relação ao mesmo mês do ano anterior. Este é o menor número desde junho de 2018, quando o total de brasileiros inadimplentes chegou a 61,2 milhões. Em abril de 2020, pouco depois do início da pandemia, 65,9 milhões de pessoas tinham contas vencidas e não pagas no país, o que representava 41,8% do total de brasileiros acima de 18 anos. Já no último mês do ano, 38,6% da população adulta estava inadimplente.

Pode-se dizer, com toda certeza, que 2020 foi um ano atípico em vários aspectos e é isso que enxergamos nesses dados do Serasa Experian sobre o pagamento de dívidas. “Apesar de termos um número elevado de inadimplentes assim que a pandemia começou, isso foi mudando com o pagamento do auxílio emergencial e com a facilidade de renegociação e alongamento das dívidas, que movimentaram a economia e fizeram com que os brasileiros conseguissem ir acertando suas contas”, comenta Luiz Rabi, economista do Serasa Experian.

O economista explica que o auxílio emergencial gerou uma compensação proporcional, no geral, em relação à perda de renda sofrida pela população. Outro ponto importante foi a prioridade dada no pagamento das dívidas. “Na pesquisa nós vemos que a representação das dívidas com o sistema bancário, cartões e financeiras diminuiu em 2020 e outros setores apareceram com uma porcentagem maior de endividados, como é o caso do varejo, já que a população mostrou que o importante era garantir crédito na praça, por isso fizeram o acerto das dívidas bancárias. Mas, em números absolutos, houve uma queda geral da inadimplência em todos os setores”.

Só que o cenário positivo de 2020 não deve se repetir neste ano. A pandemia está ainda mais descontrolada por conta das novas variantes do coronavírus e o Brasil passa por uma crise sanitária que afeta diretamente a economia. “O momento vivido com a proliferação das novas variantes é muito complicado e mais letal, por isso dará um prejuízo muito maior. Nós já estamos vendo várias medidas de restrição sendo implantadas por governadores e prefeitos para conter os avanços, além da possibilidade iminente de lockdown. Isso tudo leva à paralisação dos setores e é inevitável o aumento da inadimplência”, garante Rabi.

O economista acrescenta mais fatores que irão influenciar no aumento do endividamento geral. “O auxílio emergencial, que ainda não está sendo distribuído em 2021, corresponderá à cerca de 15% do que foi pago no ano passado, tornando o reforço econômico muito menor. Fora isso, temos a inflação que vem subindo constantemente e afeta o preço de alimentos e combustíveis, que são dois componentes que corroem a renda dos brasileiros, e, para piorar, o Banco Central anunciou uma rodada de aumento da Selic, deixando o crédito mais caro e as negociações mais difíceis”.

Para Rabi, a esperança de um segundo semestre melhor economicamente está na vacinação em massa. “Mesmo assim já sabemos que os setores não bancários serão os mais prejudicados, pois a população prefere deixar de pagar uma prestação de um produto comprado no varejo a ficar sem crédito no banco”. Ele ainda comenta que: “o final de 2020 veio como um sinal de alerta, com o auxílio baixando para R$ 300,00 e o aumento da inadimplência não bancária”.

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Caos na região Norte

Segundo o economista Luiz Rabi, a crise no sistema de saúde do Amazonas e em outros estados do Norte do país já deu uma amostra do que pode acontecer enquanto a pandemia ainda estiver descontrolada. “51% dos amazonenses terminaram o ano inadimplentes, liderando o ranking por estado, e os resquícios disso devem permanecer por mais um tempo. Aliás, a população do Norte do Brasil é a que tem a menor renda per capta, e essa crise sanitária vem afundando a geração de renda na região”.

Para finalizar, Rabi deixa um lembrete: “Somente resolvendo melhor a questão sanitária é que faremos a economia voltar a andar. E já podemos esperar um primeiro semestre de 2021 fechando com aumento generalizado da inadimplência.”

 

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