Geração Z rejeita “fast furniture” e impulsiona consumo de usados
Conscientes do impacto ambiental da indústria moveleira, os jovens da Geração Z estão liderando uma mudança de comportamento: preferem peças duráveis, reutilizáveis e com história, rejeitando o modelo descartável do chamado fast furniture.
Pesquisas estimam que, globalmente, mais de 51 milhões de toneladas de móveis são consumidos todos os anos — e 95% acabam descartados. Essa alta taxa de compra e descarte reflete a lógica do fast furniture, uma espécie de “moda rápida” dos móveis: produtos baratos, feitos em larga escala e com baixa durabilidade.
O fenômeno é impulsionado pelo ritmo acelerado das tendências de decoração. Um estudo britânico, por exemplo, mostrou que consumidores redecoram suas casas a cada um a cinco anos, o que incentiva a substituição constante de mobiliário. “Para se manterem na moda, recorrem a móveis baratos e descartáveis que podem ser facilmente substituídos quando a tendência muda”, observam os autores do levantamento.
Além do consumo excessivo, há outro problema: a reciclagem é extremamente difícil. Um único sofá pode conter tecidos, espumas plásticas, madeira compensada, papelão e molas metálicas — materiais unidos por laminados, resinas e colas que inviabilizam a separação. Nos Estados Unidos, só em 2018, foram geradas 12,1 milhões de toneladas de resíduos de móveis, das quais menos de 0,5% foram recicladas — um volume quase seis vezes maior que o registrado na década de 1960.
A ascensão do fast furniture
A popularização do fast furniture foi impulsionada pela introdução de materiais mais baratos e leves, aliados à expansão de marcas globais. Ícones como a estante Billy, da Ikea, simbolizam essa transformação. Desde seu lançamento em 1979, o produto passou de um acabamento em madeira para versões com materiais mais simples e econômicos — e hoje a empresa afirma vender uma nova unidade a cada cinco segundos.
Outro fator determinante foi a entrada das marcas de moda no universo da decoração. Gigantes europeias do fast fashion lançaram divisões voltadas a artigos para o lar, baseadas em tendências sazonais e de curta duração — como mesas rústicas para o outono e cadeiras de veludo para o inverno. O resultado foi uma cultura de consumo marcada pela substituição constante e pelo baixo valor percebido dos produtos.
Florestas sob pressão
O avanço do fast furniture pressiona diretamente a cadeia de suprimentos e os recursos naturais. A Ikea, por exemplo, é uma das maiores consumidoras de madeira do mundo, respondendo por cerca de 0,5% de toda a madeira colhida para fins industriais a cada ano.
Relatórios de organizações ambientais, como o Greenpeace, já alertaram para a exploração de áreas de alto valor ecológico na Europa Oriental. A própria empresa afirma que segue padrões de certificação florestal (FSC) e proíbe o uso de madeira oriunda de florestas antigas protegidas, mas o debate evidencia a complexa relação entre custo, escala e sustentabilidade.
O contramovimento: móveis de segunda mão
Enquanto isso, cresce rapidamente o interesse por móveis usados e reaproveitados. Plataformas digitais se tornaram o principal canal desse movimento. O Facebook Marketplace registra mais de um bilhão de visitantes mensais, dos quais cerca de 491 milhões compram produtos de segunda mão.
O Pinterest também aponta a tendência: as buscas por “cozinhas de segunda mão” aumentaram 1.012%, e por “decoração de segunda mão”, 283% — sendo os usuários da Geração Z metade da base da plataforma.
Essa geração vê nas compras de móveis usados não apenas uma alternativa econômica, mas também uma forma de consumo sustentável e afetiva, conectada à história e à longevidade dos objetos.
Sustentabilidade e novos valores
Especialistas em design e sustentabilidade apontam que reutilizar e restaurar são práticas cada vez mais valorizadas — e um dos antídotos mais eficazes contra os impactos ambientais do fast furniture.
Ao priorizar peças com vida útil estendida e origem transparente, os jovens consumidores estão ajudando a redesenhar o mercado moveleiro global — substituindo o consumo descartável por uma nova cultura de durabilidade, circularidade e significado.
Com informações https://istoedinheiro.com.br




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