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Knót Artesanal, um nó que deu certo

Por Jeniffer Oliveira - 10 de Agosto 2018

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Trabalhar em dupla é um fator que, desde a época escolar, ouve-se dizer que gera inúmeros conflitos. São duas pessoas de características diferentes que têm de aprender a encontrar consensos, o que nem sempre é fácil, levando em conta que cada ser humano possui uma personalidade diferente. É claro que, trabalhar sozinho, pode ser sinônimo de autonomia e de praticidade, já que não há ninguém para contestar opiniões. Mas o trabalho em equipe, além de enriquecedor, pode ser uma soma de conhecimentos e experiências, capazes de desencadear ótimos resultados. E é neste último conceito que está ancorado o trabalho da dupla Renata Gutierrez e James Rowland, fundadores da marca Knót Artesanal. No caso dos dois profissionais, cada um veio de um canto do mundo e a união de diferenças e culturas não poderia ter dado mais certo.

 

Ela, brasileira, formada em Arquitetura e Urbanismo. Ele, proveniente da Austrália, cresceu na Escócia, formou-se em Geofísica e mais tarde em marcenaria. A dupla se conheceu em Barcelona, na Espanha, onde Renata Gutierrez realizou um Master em Teoria e Prática de Projeto, enquanto James Rowland trabalhava na cidade no ramo da Geofísica. A dupla morou em Barcelona durante sete anos trabalhando lado a lado, unificando diferentes talentos e culturas. Em 2015, James Rowland decidiu estudar marcenaria na escola inglesa Waters & Acland, um espaço especializado em marcenaria tradicional de alta qualidade, tanto de design como de fabricação. “Nosso trabalho é muito complementar, tenho olhos de arquiteta e gosto de medidas e texturas. Enquanto o James explora as técnicas construtivas e ângulos”, conta Renata Gutierrez.

 

A escolha pelo nome da marca não poderia representar tão bem a união dos dois profissionais. Em inglês, “knot” significa “nó”, palavra que foi escolhida para representar o encontro da dupla e a mistura de arquitetura e marcenaria presentes em um mesmo trabalho.  A marca foi criada no ano de 2016 quando a dupla, motivada a buscar novos desafios, decidiu vir ao Brasil para colocar em prática o plano que envolvia design, beleza e simplicidade esculpidos de forma artesanal. “A Knót surgiu de uma vontade enorme de mudança, tanto de vida como de sentido para o que estávamos fazendo. Queríamos encontrar prazer no fazer, coisa que em nossos trabalhos não estávamos tendo mais”, conta a designer Renata Gutierrez. Além disso, a profissional acrescenta que a escolha por trabalhar em solo brasileiro permitiu o conhecimento de uma ampla gama de espécies de madeira. Atualmente, a dupla desenvolve seu trabalho na pequena cidade de Paraty (RJ). Além de desfrutarem de inspirações diárias no atelier localizado com vista para o mar, os profissionais experimentam dia a dia a interação do público com suas peças. “Escolhemos um lugar que permitiria viver com a qualidade de vida que buscávamos e que tivesse as “portas abertas para o mundo”, e Paraty era essa cidade, com uma beleza exuberante entre montanhas, rio, mar e cultura” afirma Renata.

 

Finalistas no Prêmio Salão Design nos anos de 2017 e 2018, a dupla que, no último mês de abril recebeu 5 prêmios no concurso italiano A’Design Award, conta que o processo criativo dos dois é muito intuitivo e está alinhado à sintonia que construíram ao longo dos anos trabalhando juntos. “O resultado é fruto da nossa mistura de cultura e formação, onde cada um vai buscando refinar os detalhes e encontrar uma unidade entre as peças. Acreditamos que o trabalho em conjunto é um processo muito mais interessante e enriquecedor, se conseguimos preservar o respeito pela opinião do outro”, conta a designer Renata Gutierrez.

 

 

Um nó artesanal

 

Ângulos, contrastes, texturas e proporções em equilíbrio são parte do exercício diário da dupla.  Todas as peças são produzidas à mão, a partir de técnicas da marcenaria tradicional, com os encaixes respeitando os veios da madeira, buscando contrastes entre diferentes tipos de madeiras brasileiras. Entre os materiais utilizados para a produção, o cobre está presente como um artefato capaz de proporcionar um contraste com a madeira. “Aos poucos, introduzimos o cobre nas nossas peças, por ser um material que tem também uma vida como a madeira. O contraste entre os dois materiais cria estruturas bem interessantes. Dizemos que os dois têm vida, porque eles reagem à diferença de temperatura e umidade’, acrescenta Gutierrez. A designer acrescenta que a mistura entre as linhas contemporâneas, a técnica tradicional e a madeira de demolição seduzem a todos que entram no atelier.

 

Engajada em um objetivo final que comporta a contemporaneidade, a produção dos designers Renata Gutierrez e James Rowland segue uma linha de inspiração vinda do estilo nórdico, japonês e também das origens de Rowland, que cresceu no nordeste da Escócia, que objetiva a perfeição nos mínimos detalhes. “A Escócia tem uma tradição de marcenaria bem interessante, com uma busca do primor da execução”, conta a designer.

 

Por meio de linhas simples e bem definidas, cada produto de criação da dupla vem da busca da união da beleza e conforto, com peças atemporais, capazes de se adequar facilmente em qualquer espaço. Para isso, o cuidado com cada detalhe no processo artesanal é de suma importância para eles. “Buscamos novos desafios, incorporar novos materiais e técnicas, acreditando sempre na importância da produção artesanal”, afirma Renata.

 

A dupla começou a produzir móveis artesanais especialmente por acreditar na importância do design e no valor daquilo que é produzido à mão. Para eles, apesar de ocorrer de maneira lenta, há uma mudança que vem provocando a indústria a se aliar aos designers, de maneira que ambos vêm ganhando com essa parceria. Ademais, a dupla acredita que o futuro do design está fortemente atrelado à uma produção característica do passado que, acima de tudo, se fundamenta na qualidade, onde a dupla pretende se ancorar para qualquer plano futuro. “Acreditamos que o futuro do design está enraizado no passado, onde designers e fabricantes independentes de pequena escala produzem peças artesanais de qualidade”, finaliza Renata Gutierrez.

 

Matéria publicada originalmente na edição de julho da revista Móveis de Valor.

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