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Mercosul+UE: Vantagem ou preocupação para moveleiros?

Por Natalia Concentino - 15 de Agosto 2019
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Mercosul+UE: Vantagem ou preocupação?

Por 20 anos a redução e/ou abolição das taxas alfandegárias de países pertencentes ao bloco europeu não evoluiu e só se resolveu no dia 28 de junho, em Bruxelas, na Bélgica, quando finalmente foi assinado o acordo de livre comércio entre os países do Mercosul e da União Europeia. Os 22 capítulos do documento preveem a abolição de taxas sobre alguns produtos, e outros apenas reduzidos.  

“Ainda não dá para saber quem irá ganhar ou perder, mas o acordo rompe com a inércia na política internacional brasileira”, afirma o professor de comércio internacional da PUC Rio, Carlos Frederico Coelho, em entrevista ao InfoMoney.

Mas, e o setor moveleiro? Será beneficiado ou o acordo traz preocupações aos empresários? Para responder a esse questionamento, fomos ouvir os envolvidos diretamente na questão.

O presidente do Sindmóveis, Vinicius Benini, lembra que o acordo ainda passa por um longo processo de ajustes e aprovações até entrar em vigor e ser plenamente implementado, sendo que seus diversos trâmites podem levar alguns anos. Apesar disso, diante da relativa queda de participação desses países nas exportações, de 26% em 2016 para 20% em 2018, a perspectiva do setor moveleiro pode ser positiva. “Levando em consideração que juntos os blocos representam um mercado consumidor de 750 milhões de pessoas e 25% do PIB mundial, percebemos a importância da assinatura. Além disso, o consumidor também será beneficiado, pois terá à disposição maior gama de produtos europeus por preços mais acessíveis”, observa Benini.

Em relação ao polo moveleiro de Bento Gonçalves, o presidente do Sindmóveis revela que, apesar das tarifas não serem um desafio de competitividade atualmente, acredita que condições mais equânimes de competição podem gerar resultados positivos para as exportações do polo. “De imediato, espera-se que as empresas moveleiras empreguem maior esforço comercial direcionado aos países europeus, que tendem a ser mais receptivos aos produtos brasileiros”, avalia.

Benini admite que em Bento Gonçalves o acordo ampliou ainda mais as expectativas de fortalecimento das exportações. “O desempenho na nossa área de atuação é crescente há pelo menos 30 meses, sendo superior ao Rio Grande do Sul e ao Brasil como um todo. Dentro desse cenário, o Reino Unido vem ganhando posições entre os maiores compradores de móveis de Bento, subindo de 14º no ranking em 2018 para a 7ª posição atualmente”, observou, acrescentando que os móveis de madeira para dormitórios, estantes, armários e mesas estão entre os mais comprados pelos europeus.

O presidente do Sindmóveis BG conclui que empresários do polo já vinham aumentando seu foco no mercado externo há pelos menos cinco anos. “Aquelas empresas que conseguiram manter um planejamento mais coeso para o mercado externo, investindo em atributos como design e inovação, estão tendo bons resultados agora e deverão ser as primeiras a sentirem os efeitos positivos de um incremento nas relações comerciais com a Europa”, acredita, afirmando ainda que iniciativas como a Movelsul Brasil com o Projeto Comprador, projeta os móveis brasileiros diante de outros países.

Para a presidente da Abimóvel, Maristela Cusin Longhi, a assinatura do acordo é bastante oportuna para o setor, no sentido de fomentar as exportações brasileiras para a região. Maristela concorda que os países europeus concentram suas aquisições em móveis de madeira, com destaque para dormitórios salas de jantar, estar e complementos.

A presidente da Abimóvel lembra que a presença de exportadores nacionais em eventos como o Salão do Móvel de Milão, na Itália, ajuda neste processo. “O Brasil tem ampliado sua competitividade nos principais mercados mundiais, graças aos investimentos da indústria em design, tecnologia, sustentabilidade e desenvolvimento de produtos cada vez mais inovadores”, confirma.

Irineu Munhoz, presidente do Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas (Sima), acredita que a aprovação, tanto no parlamento brasileiro como no europeu deva se concretizar no mínimo em dois anos. Ele acrescenta que o acordo entre Mercosul e União Europeia é essencial para a indústria em geral. “Espero que após os trâmites legais surjam muitas oportunidades aos setores industriais e, consequentemente, ao moveleiro, com o crescimento das exportações, ofertas de produtos e geração de empregos”, destaca Munhoz, pontuando que é necessário estudar o mercado europeu e preparar as empresas para desenvolver produtos adequados à demanda desta nova vertente comercial.

Ainda de acordo com presidente do Sima, o polo moveleiro de Arapongas, por mais que não tenha como destino principal de suas exportações os países do bloco europeu, conseguiu vislumbrar uma das principais saídas da crise econômica brasileira quando passou a ofertar seus produtos aos mercados internacionais. Segundo dados do Ministério da Economia, Arapongas exportou U$ 27,3 milhões no primeiro trimestre de 2019, e desse montante U$ 18,2 milhões foram da venda de móveis. Os principais destinos são a América do Sul (52,4%) e Ásia (27,1%). A Europa é o quinto em termos de exportações com 3,7% dos produtos totais, gerando para o setor cerca de U$ 1 milhão.

“Desse modo, vemos outras portas se abrindo para o Brasil. E o setor moveleiro entrando na onda”, concluiu Munhoz.

A reportagem completa você confere na edição 189 da revista Móveis de Valor, disponível em breve.

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