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Paris mostra a casa do pós-pandemia durante Semana de Design

Por Natalia Concentino - 28 de Setembro 2021
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Em uma feira de forte conteúdo temático e mais de 350 eventos por toda a cidade, especialistas apontaram que, no futuro próximo, a habitação terá dois eixos centrais: lazer e compartilhamento.

Quase dois anos se passaram desde que a última edição da Maison & Objet ocorreu no Parc de Expositions de Villepinte, no noroeste de Paris. A expectativa, naturalmente, era grande e o afluxo de público, no segundo dia, quando visitamos a feira, intenso. O Green Pass europeu era exigido na entrada de todos os pavilhões e, caso não pudesse ser apresentado, o exame de antígeno era obrigatório.

Diferentemente do Salão do Móvel de Milão, no qual estavam expostos, sobretudo, móveis e luminárias, a Maison & Objet é uma feira voltada para objetos e acessórios de decoração, o que inclui perfumes e artigos para cama, mesa e banho. Móveis também são apresentados, mas em número bem menor em comparação com o salão italiano. Este ano foram 1.400 expositores, a maioria da Europa, mas também da Ásia e das Américas.

Outra particularidade é que, a Maison, entre todas as principais feiras mundiais de seu setor, é a única que mantém, permanentemente, um bureau de tendências, encarregado, a cada uma de suas edições – janeiro e setembro –, de apresentar os produtos em exibição dentro de uma mostra conceitual, que permanece aberta durante os dias de realização do evento.

Este ano, sob o prisma de três observadores da cena internacional, os críticos franceses François Delclaux, Elizabeth Leriche e François Bernard, a ideia foi desvendar o cenário da casa no pós-pandemia. Identificada, pelo trio, em torno de dois eixos centrais: lazer e compartilhar. Duas possibilidades em aberto, segundo eles, que prometem definir as escolhas dos consumidores daqui para a frente.

O futuro da casa

 “Após a crise sanitária, a busca do bem-estar doméstico se tornou fundamental. Por isso, penso que as funções dos espaços domésticos vão se multiplicar dentro de uma escala nunca vista. O lazer terá papel fundamental. Na prática, qualquer ambiente da casa terá de estar pronto para sediar um estúdio de ioga, um ateliê de trabalhos manuais, um espaço de jardinagem. Nem que seja um simples terrário”, conforme explicou Leriche à reportagem do Estadão.

“Estar conectado é um imperativo da vida contemporânea e a casa deve estar preparada para tanto. Como também a possibilitar que, em determinados momentos, isso simplesmente não ocorra e o indivíduo possa se voltar para si mesmo”, defende, por sua vez, François Delclaux. “Na verdade, tudo pode se tornar um canal para se compartilhar. O ar, o som, a luz, as plantas”, acredita o crítico.

Personalizada, acolhedora e conectada. Com uma área de trabalho bem equipada – mas não necessariamente monótona –, plantas por todos os lados e aberta, por meio da tecnologia, para o mundo. Mas, afinal, como serão, do ponto de vista estético, os objetos da casa do pós-pandemia? Elizabeth Leriche destaca a importância das referências artísticas.

Para a especialista francesa, a cor estará de volta, solar, energética. Em tons de azul vivo ou terracota. Já para François Bernard, a arte de receber vai exigir, cada vez mais, peças únicas, ainda que sujeitas a pequenas imperfeições. E, por fim, para François Delclaux a casa precisa de objetos autenticamente rústicos. “Ninguém aguenta mais tanta tecnologia. O momento é de voltar às raízes”, pontua ele.

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Percurso sustentável

A proteção do meio ambiente, os requisitos éticos, a transmissão de uma cultura, e de um modo de consumir menos agressivo, sensibiliza hoje grande parte dos consumidores de todo o mundo. Atenta ao movimento, a Maison & Objet dentro de sua programação oferece a seus visitantes um mapa com um circuito especial, composto unicamente por produtos produzidos a partir de bases reconhecidamente sustentáveis.

Objetos como as luminárias da RIF francesa (rif-crea.com), que só empregam fibras naturais em sua fabricação ou ainda a Dizy (dizydesign.com), uma editora francesa que oferece móveis feitos de materiais duráveis e ecossustentáveis. A seleção não se restringe, no entanto, apenas a empresas francesas. A Raw Materials (rawmaterials), hoje uma das marcas de design de interiores mais cultuadas em Amsterdã, também estava representada.

Com seu estilo rústico, mas ao mesmo tempo contemporâneo, a Raw apresentou uma coleção abrangente, incluindo móveis, iluminação, acessórios e até elementos arquitetônicos. Como elementos-chave, a beleza bruta da madeira e do metal reciclados. Sempre reutilizando e reciclando ao máximo, e minimizando qualquer tipo de desperdício.

Circuito do design

Mais de 350 mostras por toda Paris. Marcas emblemáticas, exposições temporárias, vernissages, coletivas com jovens talentos. Para os amantes do design, valeu mesmo a pena esperar pela Paris Design Week (parisdesignweek.com.br). Enquanto a Galerie Joseph, na Rue Froissart, recebia uma delegação brasileira, com designers selecionados pelo projeto Raiz, o espaço Commines, no Marais, hospedou uma das mais interessantes mostras da temporada, com foco no design de vanguarda, produzido por jovens designers.

“As peças apresentadas partem de uma economia de meios e energia, que caracteriza a nova geração”, explica François Leblanc. Já no caso de Demain Plus Beau (Amanhã Mais Bonito), outro dos destaque deste ano, tudo começou ainda no ano passado, em plena pandemia.

“A ideia era bastante simples e oportuna. Selecionei alguns designers franceses que trabalhavam com materiais extraídos de forma sustentável. O sucesso foi tanto que este ano dobramos o número de participantes”, conta Hélène Aguilar, fundadora da associação francesa General Interest for Sustainable e curadora da mostra Frugal.

Em mais de 300 m², no Hôtel de Coulanges, no bairro do Marais, este ano foram 30 os criativos franceses convidados, entre designers, artistas e arquitetos comprometidos com uma estética atemporal, por meio de técnicas e materiais inovadores e sustentáveis. “São profissionais empenhados em imaginar soluções para nossas necessidades do presente. Mas sem comprometer a capacidade das gerações futuras de responder às suas”, pontuou a curadora.

(Com informações Estadão)

 

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