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Por que a recuperação econômica do Brasil está tão lenta?

Por Natalia Concentino - 12 de Outubro 2019

O Brasil nunca esteve tantos anos em recessão. A taxa média de variação do PIB de 2014 até 2018 foi -0,86%. É como se todo ano as empresas produzissem quase 1% a menos e a renda do brasileiro caísse nesta mesma proporção.

Não só foi a maior a recessão da história do país, como também é a recuperação econômica mais lenta observada na série histórica do PIB.

Nas crises anteriores, a recessão durava em média 3 anos. Em 1981, o PIB caia 4,25%, seguido de uma variação positiva de 0,82% em 1982, caindo -2,93% em 1983. Após esses três anos de recessão, o Brasil teve crescimento expressivo de 1984 até 1987 (média de 6,05% a.a.), a despeito da hiperinflação. Já no governo FHC, após dois anos de variação quase nula do PIB (0,34% em 1998 e 0,47% em 1999), o país volta a crescer 4,39% em 2000.

Ao contrário das recessões anteriores, hoje, a recuperação econômica ocorre de maneira muita lenta. Após as fortes quedas do PIB observadas em 2015 e 2016, o país cresce apenas 1,06% em 2017, 1,12% em 2018 e a expectativa de crescimento para este ano é de apenas 0,87%, segundo o relatório Focus do Banco Central.

Diante dessa lentidão na recuperação econômica, uma pergunta se torna inevitável: o que falta para o Brasil sair do atoleiro?

O questionamento se torna mais intrigante diante da queda estrutural da taxa de juros. Pela primeira vez na história, a taxa básica de juros atingiu 5,5% a.a. e a taxa longa prefixada de 10 anos está na casa de 7,20% a.a. É claro que as taxas para pessoa física (PF) e pessoa jurídica (PJ) ainda são altas para padrões internacionais, mas essas taxas também acompanharam a redução da taxa Selic.

A redução dos juros é relevante ao tornar o capital para as empresas mais barato, contribuindo para uma retomada dos investimentos, variável chave na geração de crescimento econômico.

Essa queda de juros também reflete uma diminuição do prêmio pelo risco, diante de um otimismo do mercado financeiro em relação à aprovação da reforma da Previdência. Uma vez aprovada, o risco de um calote fiscal estaria mitigado, pelo menos no curto e médio prazos.

Mas, se o capital para as empresas está mais barato e os investidores mais otimistas, o que falta para as empresas produzirem mais?

Para tentar responder a essa pergunta, é necessário fazer uma distinção entre o comportamento dos agentes do mercado financeiro e os empresários. Uma hipótese é que o otimismo dos investidores ainda não se refletiu no mercado empresarial. Se, para os agentes do mercado financeiro, a melhora do ambiente macroeconômico é líquida e certa com a aprovação da Reforma da Previdência, para empresários, não. Em outras palavras, a aprovação da Reforma da Previdência ainda não estaria incorporada às expectativas da classe empresarial.

É bom lembrar que as tentativas de aprovações da reforma da Previdência em governos anteriores sofreram reviravoltas nos últimos instantes. Em 2017, quando o governo Temer tinha os votos necessários para aprovar a reforma da Previdência, o “Joesley day” impediu a sua votação. Já em 1998, um dos deputados da base aliada, Antônio Kandir (PSDB-SP), apertou o botão errado, e o governo FHC foi derrotado por apenas 1 voto, impedindo a elevação da idade mínima, um dos principais pontos da reforma da Previdência.

Diante dessas incertezas, é natural que o empresário volte a investir quando tiver algo mais concreto, que confirme uma melhora no ambiente macroeconômico. Além disso, a classe empresarial tem certa desconfiança em relação ao Congresso aprovar as reformas propostas pelo poder Executivo.

Recentemente, o Congresso impôs derrotas ao governo, como desidratação da reforma da Previdência e lei de abuso de autoridade. No entanto, apesar desses obstáculos, é provável que a recuperação econômica venha mesmo assim. Primeiro, porque a reforma da Previdência deverá ser aprovada, influenciando positivamente a confiança dos empresários na economia do país. Segundo, porque, com juros mais baixos, o prêmio para investir no setor real da economia se torna maior. Essa combinação poderá finalmente tirar o Brasil do atoleiro.

 

Por Alan Ghani, economista, PhD em Finanças e professor de pós-graduação (publicada no InfoMoney)

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