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Antes de estabelecer metas saiba qual o tamanho do mercado

Por Natalia Concentino - 08 de Março 2021
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Depois de diversos dados infundados e números totalmente irreais, inclusive orientando o prospecto inicial da Mobly na justificativa de lançamento do IPO, o que pode induzir investidores a erro de avaliação do potencial a ser alcançado pela startup, é preciso que se recoloque a realidade sobre a representatividade do setor moveleiro, quando se refere a móveis residenciais. No prospecto se lê: De acordo com (...) o IEMI, o mercado total de Home and Garden no Brasil soma R$ 90 bilhões em receitas em dezembro de 2019. Mas não é apenas este caso, dados equivocados prejudicam principalmente o estabelecimento de metas de vendas das empresas, o share de mercado que se pretende alcançar, estabelecendo-se metas irreais e responsabilizando os executores das metas por eventuais fracassos. Pior do que não ter dados, é ter dados falsos.

O IPC Maps, anteriormente denominado IPC marketing, pesquisa há mais de 20 anos o Índice de Potencial de Consumo no País, abrangendo as despesas das famílias em vinte e duas categorias. (A íntegra do resumo de apresentação do IPC de 2020 você pode ler aqui). Naturalmente um dos itens se refere a Mobiliários e Artigos do Lar, equivalente a denominação utilizada pelo IBGE em sua Pesquisa Anual de Comércio (PIA) que menciona “Móveis, iluminação, artigos de uso doméstico”. Em 2018 (última PIA disponível) o IBGE informou que este item, em todas as suas formas de varejo – desde lojas físicas a televendas – obteve uma Receita Bruta de Revenda de R$ 63,630 bilhões.

Por seu lado, a estimativa para 2020 do IPC Maps para Mobiliários e Artigos do Lar era de R$ 62,611 bilhões, considerando já os efeitos iniciais da pandemia, em razão do estudo ter sido divulgado em abril do ano passado. E a precisão se mostrou correta, em linha com o que efetivamente ocorreu no ano, segundo o IBGE. O resultado do PIB de 2020, divulgado agora, mostra queda no consumo das famílias de 5,5%.

Note que ambas relacionam móveis e artigos do lar. Portanto, para se ter dados exatos de mobiliários, é preciso recortar o percentual específico de móveis, o que o Mapa do Mercado (veja abaixo) realiza desde 2001, quando foi publicado pela primeira vez com o título de Brasil Moveleiro.

leia: COMUNICAÇÃO EFICIENTE PODE SER A DIFERENÇA PARA VENDAS SAUDÁVEIS

Mapa do Mercado

O estudo Mapa do Mercado, elaborado pelo Instituto Impulso com dados do IBGE, considerando também a evolução das previsões do IPC Maps, mas considerando apenas mobiliário, avaliou em janeiro do ano passado, o potencial do mercado de móveis residenciais em R$ 62,6 bilhões. Uma expectativa bem positiva, baseada nos resultados das vendas do final de 2019.

Para 2021 a previsão do Mapa do Mercado é que as vendas de móveis alcancem R$ 65,2 bilhões, alta de 4,5%. Novamente acima das previsões que deve conter o IPC Maps 2021, programado para sair em abril ou maio. Mas, plenamente justificado pelo desempenho do varejo de móveis em 2020, que registrou expansão de 11,5% em Receita Nominal de Vendas. E do avanço no consumo das famílias que, como vimos acima, recuou ano passado.

Para esclarecer melhor sobre o tamanho do mercado moveleiro, e buscar restabelecer a realidade, baseado nos estudos de uma empresa idônea e considerada como fonte para planejamento de metas de importantes empresas nacionais, entrevistamos o diretor do IPC Maps, Marcos Pazzini.

Veja a entrevista:

Móveis de Valor: Já é possível antecipar o Índice de Potencial de Consumo para 2021?

Marcos Pazzini: Ainda não. A edição 2021 do estudo IPC Maps só será finalizada entre abril e maio. O que se pode adiantar é que voltaremos a ter crescimento do potencial de consumo das famílias, da ordem de 3,5% a 4,0%, em 2021

MV: Para o setor de móveis, qual o percentual de alta previsto?

MP: O cálculo do potencial de consumo por categorias é a última fase de nossos cálculos, portanto só teremos esse número entre o final de abril e o início de maio.

MV: Recentemente vimos o uso da expressão “Home and Garden” para quantificar o tamanho do mercado de móveis residenciais. O IPC de Mobiliários e Artigos do Lar contempla isso?

MP: No IPC Maps contemplamos todas as despesas da população com móveis de todos os tipos, inclusive Home and Garden.

Então é isso

Considerando os dados do IBGE, do IPC Maps e o Mapa do Mercado, elaborado anualmente desde 2001, inclusive com recorte por classe social e segmentos, o mercado de mobiliários no Brasil gira na casa de pouco mais de 60 bilhões de reais, pelo menos até agora. Como se vê, significativamente menor do que o anunciado no prospecto da Mobly e em outras publicações.

Mas, de nossa parte vamos trabalhar muito para o desenvolvimento do mercado, com estratégias inteligentes, para aumentar este patamar, que não se movimenta significativamente nos últimos anos.

 

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Ari Bruno Lorandi

Jornalista profissional com mais de 40 anos de atividades. Atua em estratégias de comunicação e marketing no setor moveleiro há 30 anos. É Diretor de marketing do Intelligence Group do Brasil, empresa de comunicação e marketing com sede em Curitiba. A empresa publica a revista Móveis de Valor, Móveis de Valor Norte & Nordeste, Anuário de Colchões Brasil e criou a primeira TV do setor moveleiro no mundo em atividade desde 2008.