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Varejo fica ainda mais dependente da concessão de crédito

Por Natalia Concentino - 24 de Janeiro 2022
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Em algum momento, quem faz compras de forma presencial em uma rede varejista ouvirá a pergunta: “tem cartão da loja?”. Para alimentar a operação de concessão de crédito, essas empresas dependem de um vínculo com o consumidor. O cadastro, muitas vezes, dispensa comprovantes de renda ou conta bancária. Quase não existem barreiras para as linhas de créditos especiais, cuja ideia é capturar uma massa de clientes para estimular as compras na rede. Há mais de duas décadas o varejo navega no universo do crédito destinado ao consumo, que representou 28% do PIB brasileiro em 2020. Mas passará por nova prova de fogo em 2022. Em um ano desafiador para a economia, as ameaças são a alta taxa de juros e o maior índice de endividamento em 11 anos, que compromete a renda de 70% das famílias brasileiras em 2021, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo.

A democratização do crédito se conecta com a realidade dos 34 milhões de desbancarizados e de classes econômicas mais baixas, que não têm acesso a 80% do crédito concentrado nas mãos dos bancos e também mais vulneráveis à alta da inflação. No Brasil, o crédito tem um papel crítico para estimular o consumo, ao mesmo tempo que, para o varejo, funciona também para fidelização dos clientes à marca. Nos núcleos familiares com renda de até dez salários-mínimos, o índice de endividamento chegou a 72% em 2021, um aumento de 4 pontos percentuais sobre o primeiro ano da pandemia. O índice voltou a acelerar no fim de 2021, entrando em 2022 com tendência de alta.

Alguns reflexos desse cenário já aparecem nos resultados do varejo em novembro, quando, apesar da alta de (apenas) 0,6% das vendas, o comércio sentiu no bolso o enfraquecimento da Black Friday. Categorias mais populares na data, como eletroeletrônicos, vestuário e decoração para casa retraíram ante o mesmo período de 2020. O tímido salto se deveu às compras em supermercados, de categorias alimentícia e farmacêutica.

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Milhões de brasileiros dependerão dos sistemas de crédito das varejistas em 2022, o que levanta dúvidas sobre a capacidade dessa tecnologia para sustentar as operações com os índices de inadimplência baixos e juros menores que os dos bancos, mesmo diante de uma economia fragilizada. A Via, donas das redes Casas Bahia e Ponto, tem 95 milhões de crediaristas na base e ao menos R$ 16 bilhões de crédito pré-aprovado. Na Riachuelo, são mais de 32 milhões titulares do cartão de crédito da marca e que respondem por cerca de 40% das vendas. Algo semelhante ocorre nas redes Marisa, Carrefour, Pão de Açúcar, Renner e Americanas, entre outros. Este grupo seguirá atento, sem certeza se incrementar as linhas de crédito é mesmo a luz no fim do túnel ou o trem que avança na sua direção.

(Com informações IstoÉ Dinheiro)

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