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Black Friday ‘morna’ indica Natal mais fraco no varejo

Revisado Natalia Concentino - 30 de Novembro 2022
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Os dados da Black Friday mostram uma mudança no perfil de compras, que cresceu entre os não duráveis

Com juros altos e parte da renda das famílias comprometida com dívidas, dados preliminares apontam uma queda inédita nas vendas da Black Friday e da Cyber Monday — celebrado ontem com foco em promoções de eletroeletrônicos — e acendem um sinal amarelo no varejo. Empresas, consultorias especializadas e economistas já refazem as projeções de vendas para o Natal, incluindo previsões de queda em relação ao de 2021.

 

Fábio Bentes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), destaca que a Black Friday deste ano coincidiu com a alta no endividamento do consumidor em meio às incertezas sobre o futuro da economia.

 

Segundo o Banco Central (BC), 28,7% da renda dos brasileiros estão comprometidos com dívidas, um patamar recorde, diz Bentes:

 

"A isso se soma juro elevado, criando obstáculo para as vendas. Esperávamos vendas melhores, já que a inflação cedeu em relação ao final do ano passado, mas essa melhora ainda não chegou na ponta. Como a Black Friday tem forte venda em bens duráveis, estamos vendo recuo porque o consumidor já está endividado e ainda há indefinições para 2023, como a manutenção dos R$ 600 do Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família), o que afeta a vendas de eletrônicos e eletrodomésticos."

 

Segundo o economista, esse movimento vai afetar em cheio o comércio no Natal:

 

"Havia uma perspectiva de alta de 2,1% nas vendas deste Natal. Agora, isso pode ser revisto para baixo por conta do endividamento e do custo do crédito, conforme revelaram os dados do BC. Podemos esperar uma estabilidade nas vendas para o Natal, com lembrancinhas e compras à vista.", apontou Bentes.

 

Os dados da Black Friday mostram uma mudança no perfil de compras, que cresceu entre os não duráveis. Segundo os dados da Neotrust, o consumidor preferiu as ofertas de itens de beleza (+7,8%), artigos pet (+10%), biscoitos e snacks (+79%), carne, frango e pescado (+163%) e congelados (+70%). Por outro lado, houve queda de 42% na venda de celulares, de 40% na de itens de informática e de 19% na de eletrodomésticos.

 

leia: Consumidores antecipam compras, por isso Black Friday foi ‘morna’

 

"A venda de cerveja foi antecipada ao longo do mês, com alta de 49%, como a do uísque, com crescimento de 11%. O mesmo ocorreu com as TVs, com avanço de 1%. Nesta temporada, estamos vendo as empresas tirando o pé do acelerador, com menos ofertas de frete grátis e até preços maiores para entrega. Não estamos mais naquele momento de vender a qualquer custo.", avalia Paulina, que por isso prevê uma queda de 3% no faturamento do comércio no Natal deste ano em comparação com o de 2021.

 

Analistas como João Pedro Soares, do Citi, e Luiz Guanais, do BTG Pactual, dizem que as tendências apontadas por uma Black Friday mais modesta reforçam um cenário desafiador para as varejistas on-line. Levantamento da BigDataCorp, sob encomenda do PayPal Brasil, mostrou que o desconto médio na Black Friday caiu de 57,38% no ano passado para 54,37% em 2022. Segundo Thoran Rodrigues, CEO e fundador da BigData, é um reflexo da menor confiança dos vendedores no mercado. Por outro lado, isso dificultou ainda mais as vendas.

 

"Os consumidores estão especialmente sensíveis a preço este ano, levando em consideração as taxas de endividamento e de inadimplência, o atual nível dos juros e o aumento do custo de vida.", avaliou Thaisa Fausto, head de novos negócios do PayPal Brasil.

 

(Com informações Agência O Globo)

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