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Rússia x Ucrânia: quem ganha e quem perde em nível global?

Revisado Natalia Concentino - 12 de Março 2022
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Os Estados Unidos e seus aliados impuseram sanções mais duras para fragilizar a Rússia e pressionar Putin a pôr um fim na invasão à Ucrânia

Aqui estamos, no 16º dia do conflito, e o governo da Rússia afirmou na quinta-feira, 10, que a economia do país está em choque e passa por uma guerra econômica “sem precedentes”. 

 

Por sua vez, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse a repórteres do G1 que medidas estão sendo tomadas para conter a desvalorização do rublo e proteger o sistema financeiro russo do colapso.

 

De fato, as sanções do Ocidente contra a Rússia claramente já surtem efeitos severos, que podem piorar ainda mais.

 

As ações do Sberbank, maior banco da Rússia, chegaram a acumular queda de -95 por cento na semana passada, levando a ação do banco a ser negociada a um centavo. 

 

A derrocada dos papéis contagiou outras empresas russas que também têm certificados de depósito listados em Londres e desmoronaram em valores comparáveis.

 

Além disso, a exclusão de muitos bancos russos do sistema de comunicação financeira SWIFT representa um grande desafio, pois dificulta as relações comerciais com o exterior.  

 

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Ainda no cenário local, há preocupações de que as entidades afetadas pelas sanções não consigam pagar os empréstimos, forçando os bancos russos a cancelar alguns deles.

 

Restrições dos EUA ao petróleo russo

 

Os Estados Unidos e seus aliados impuseram sanções mais duras para fragilizar a Rússia e pressionar Putin a pôr um fim na invasão à Ucrânia.

 

A mais recente foi o embargo ao petróleo russo e a fontes de energia, anunciadas na terça-feira, 8, pelo presidente americano Joe Biden. Em contrapartida, Putin assinou um decreto que limita o comércio de matérias-primas da Rússia até o fim deste ano.

 

Esse conjunto de medidas traz efeitos prolongados para as economias globais, incluindo a brasileira. 


De qual forma?

 

A Rússia produz 11 por cento do petróleo do planeta (cerca de 7 milhões de barris por dia) e é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo — atrás apenas dos EUA e da Arábia Saudita. 


Para te dar um rápido contexto, mais da metade do petróleo russo vai para a Europa (8 por cento). Os EUA são menos dependentes, com cerca de 3 por cento.

 

Devido à dinâmica da guerra, o barril de petróleo tipo Brent, referência internacional, saltou para quase 140 dólares. 

 

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E, agora, a nova sanção imposta pelos EUA vai pressionar ainda mais a restrição de oferta. Como?


Pra quem está perdido, mesmo antes da invasão russa, a oferta mundial de petróleo já não conseguia acompanhar a demanda na retomada da atividade econômica  – motivo pelo qual os derivados do petróleo já estavam entre os principais responsáveis pela escalada da inflação do Brasil.


A disparada do preço do petróleo fez a defasagem entre os preços cobrados pela Petrobras (PETR4) e os das principais bolsas de negociação do mundo saltar para +30 por cento, segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).

 

Petrobras anuncia reajuste de gasolina e diesel 

Pressionada pelo avanço das cotações do petróleo, a Petrobras anunciou ontem, 10, reajustes nos preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha. As altas entram em vigor a partir desta sexta-feira, 11.


No caso da gasolina, o reajuste para as distribuidoras é de +18,8 por cento. Já para o diesel, o aumento foi ainda maior, de +24,9 por cento.

 

Na prática, o preço da gasolina tem impacto direto em diversos setores. Como a cadeia logística brasileira é baseada no transporte rodoviário, a influência é ainda maior nesse setor. O turismo também sofre um impacto importante. Como consequência, as passagens devem ficar mais caras.

 

Após o anúncio dos reajustes, também na quinta-feira, 10, o Senado aprovou dois textos que tratam de combustíveis. Um deles promove alterações na cobrança do ICMS nos estados (PLP 11) e o outro altera a política de preços da Petrobras (PL 1.472). Agora, ambos os projetos precisam de aprovação da Câmara.

 

Possível choque na oferta dos alimentos

 

Além do choque nos preços dos combustíveis, a Guerra na Ucrânia pode ser “catastrófica” para a alimentação global. 

 

Entenda: antes da guerra de Putin, a Rússia e a Ucrânia, juntas, eram responsáveis por mais de um quarto das exportações mundiais de trigo. Agora, a Rússia está sancionada, e a Ucrânia é uma zona de guerra.

 

Com isso, o estoque global de trigo está diminuindo, fazendo com que o cereal alcance seu maior valor da história.

 

Nesta semana, foi registrada uma valorização de +7 por cento no trigo. Então pães, pizza, macarrão e outros alimentos derivados vão ficar ainda mais caros.

 

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Também tem o problema de secas na Região Sul do Brasil, que fizeram com que as colheitas de milho fossem prejudicadas. E como o milho é base para ração animal… você já sabe o efeito disso. O preço da carne também pode aumentar.

 

Por fim, a guerra no Leste Europeu também impacta o preço dos fertilizantes, insumo central para boa parte das plantações no mundo todo, inclusive no Brasil, prejudicando o cultivo de hortaliças e verduras ao redor do globo.

 

Para piorar a situação, a persistência da inflação e pressão no valor das commodities fizeram com que o FED, o banco central americano, abandonasse seu discurso de uma possível inflação “transitória” e, no dia 2 de março, antecipou que deverá elevar os juros em 0,25 ponto percentual na reunião que termina em 16 de março, o que já era esperado pelo mercado.

 

*Por Danielle Lopes, analista da Nord Research

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