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E os problemas só aumentam

Por Natalia Concentino - 23 de Setembro 2021
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Faz todo o sentido a imediata ordem do presidente Joe Biden direcionada aos Departamentos de Comércio, Agricultura e Transporte instando-os a examinar atrasos na cadeia de suprimentos e soluções para ajudar as empresas e consumidores americanos. E esta notícia, publicada aqui ontem, rendeu reação de lojistas. Uma delas indagou: E os representantes da cadeia moveleira fizeram alguma coisa? ou estão esperando as coisas caírem do céu? ou estão satisfeitos com os aumentos quase semanais repassados para nós, varejistas?

Por seu lado, uma pessoa ligada ao setor de colchões desabafou: “Ninguém vai deixar de depender de insumos estrangeiros e inventar uma tecnologia genuinamente nacional? ou quem sabe, implementar a reciclagem, logística reversa, economia circular...? O setor colchoeiro não tem mesmo um único dia de paz...”

Porém, ao invés de se vislumbrar soluções, os problemas do setor só aumentam. Recentemente o setor foi surpreendido com a volta do imposto de importação do TNT (usado para ensacar molas, entre outras utilidades no setor colchoeiro), o que confirmou que os custos praticados pelos fornecedores estavam claramente abusivos, já que no período de vigência da tarifa zero o preço de venda do TNT nacional teve redução na faixa de 30%. A portaria da Camex foi alcançada com gestões da Abicol, mas foi suspensa por pressão do setor têxtil.

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Agora, devido a política do governo chinês de controlar o consumo de energia em Jiangsu e às restrições de consumo de energia em Shandong, alguns fabricantes de Poliol estão limitando ou suspendendo a produção, resultando em oferta restrita ao mercado. E como resultado, sob pressão de estoque, os fabricantes continuam aumentando suas cotações. A demanda dos compradores continua bastante alta e com isso os preços só aumentam. Ontem, 22, as cotações estavam entre 17.700 e 17.900 RMB, ou seja, mais de US$ 2.700 por tonelada. A alta da semana é de 9,2% e nos últimos 90 dias a cotação subiu 24%, em média, como se vê no quadro abaixo.

O poliol, junto com o TDI, é a matéria-prima para produção de espumas, o principal componente dos colchões, inclusive os de molejos.

Claro que o governo chinês está atuando para que os preços fiquem ajustados ao seu interesse. Preços de venda sobem e de compra recuam, como está acontecendo agora com minério de ferro e aço que a China importa. Apenas este mês, o preço do minério recuou 30% e acumula queda de 60% no ano. O aço recua 22% desde janeiro no mercado internacional e as empresas pressionam as usinas para reduzir o preço local.

De acordo com Sérgio Conti, economista da Tendências Consultoria Integrada, a forte queda nos preços das bobinas a quente e das placas de aço no exterior está surpreendendo. Ele credita o fenômeno ao forte acúmulo de estoques nos Estados Unidos e aos sinais de arrefecimento da demanda chinesa. Atentas ao movimento de retração no mercado internacional, montadoras e fabricantes de autopeças pressionam as siderúrgicas por menores preços. "Lá fora, o preço do aço já cedeu mais de 20%. No Brasil, não caiu nada", reclama Paulo Butori, presidente do Sindipeças.

leia: 55% DAS INDÚSTRIAS DE COLCHÕES ESTÃO COM VENDAS ABAIXO DE 2020

A Abicol já solicitou a Camex a redução temporária do direito antidumping sobre o fio de aço de origem da China, aplicado em 2017 e válido por cinco anos e, também, do Imposto de Importação, sob o argumento de que esta medida se faz necessário, e urgente, para que o mercado de fios de aço usado em molejos de colchões volte à normalidade.

Hoje, fabricantes de molejos estão importando o fio de aço, principalmente da Turquia, Espanha e Portugal, e fabricantes de colchões importam molejos prontos, mais barato que o nacional, ocasionando mais desindustrialização no país.

A questão do preço do aço está provocando uma queda de braço importante porque envolve o setor automobilístico e o da construção civil diante das usinas. Porém, não há nenhum sinal de que os preços do fio de aço para indústria colchoeira sejam reduzidos. Aliás, os fornecedores – leia-se Gerdau e Belgo – preferem se esquivar quando se sonda sobre essa possibilidade.

Por incrível que pareça, cada vez mais se consolida como tradição do mercado brasileiro a máxima de que os preços de matérias-primas e de insumos se movimentam apenas em única direção, sempre para cima.

Por Ari Bruno Lorandi - Diretor da Móveis de Valor

 

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Ari Bruno Lorandi

Jornalista profissional com mais de 40 anos de atividades. Atua em estratégias de comunicação e marketing no setor moveleiro há 30 anos. É Diretor de marketing do Intelligence Group do Brasil, empresa de comunicação e marketing com sede em Curitiba. A empresa publica a revista Móveis de Valor, Móveis de Valor Norte & Nordeste, Anuário de Colchões Brasil e criou a primeira TV do setor moveleiro no mundo em atividade desde 2008.