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Cabo de guerra entre os elos da cadeia moveleira precisa acabar

Por Ari Bruno Lorandi - 16 de Dezembro 2022

Há mais de três décadas, nas palestras em polos moveleiros, eu começava sugerindo que os fabricantes de móveis presentes preenchessem um questionário atribuindo nota de 0 a 10 para a sua empresa e para o setor moveleiro. E não havia surpresa no resultado, a empresa vencia fácil. Mas como? São as empresas que fazem o setor e não o contrário. Simples, eu chamo de terceirização da culpa. Eu faço a minha parte mas os fornecedores e os lojistas não fazem a parte deles.

 

E qual será a “parte deles”? Dos fornecedores os industriais esperam o máximo de tecnologia pelo menor preço. E os lojistas querem o menor preço o maior prazo, mesmo sendo resistentes à inovação. Logo, a conta não fecha e os três elos da cadeia moveleira vivem em um verdadeiro cabo de guerra.

 

Vou dar um exemplo de prática constante. Este ano os painéis subiram 8%, vidros e espelhos 12, embalagens 8%, acessórios oito e meio, serviços terceirizados e mão de mais outros 13 ou 14% para a indústria. Se financiar as vendas pode colocar mais 60% no mínimo. Some-se tudo e repasse para o varejo. Afinal esses custos vêm dos fornecedores e o fabricante não pode absorver. Agora tente repassar 8% para os lojistas. É uma missão quase impossível. 

 

Um exemplo do varejo em 2022: A inflação dos móveis de janeiro a novembro bateu na casa de 18%, enquanto isso o repasse de preços das indústrias ficou próximo de zero. O volume de vendas recuou quase 12%, mas – graças ao repasse de preços nas lojas – a receita líquida das vendas subiu 2,3%, contrastando com a queda no volume vendido.

 

Um empresário moveleiro resumiu: O Lojista ELEVOU o preço médio de venda e conseguiu REDUZIR o preço de compra, apertando as nossas indústrias! Assim, adequou o seu resultado, mesmo vendendo menor quantidade na média. É, meu caro moveleiro, foi exatamente o que aconteceu.

 

leia: Um governo qualquer não vai tirar o seu negócio dos trilhos

 

Mas existe outro dado mais preocupante do que tudo isso, por incrível que pareça: a ineficiência do varejo. 

 

Lembro que na chegada dos anos 2000 grandes marcas de móveis planejados, decepcionados com o desempenho do varejo tradicional, resolveram investir em pontos de venda. A maior parte de móveis de cozinha saiu das lojas convencionais. Mas a iniciativa não foi muito bem-sucedida por duas razões: dificuldades para qualificar vendedores que passaram a se valer apenas de projeto no computador e ainda mais problemas na instalação dos móveis na casa do cliente. Ou seja, novamente a questão de mão de obra.

 

Tudo isso explica por que há 20 anos as famílias gastavam 2% de sua renda disponível para consumo comprando móveis, e hoje é menos de 1,5%. Andamos para trás.

 

Cá entre nós: Estamos terminando um ciclo e 2023 é um bom ano para resolver o gargalo da comercialização de móveis. Com eficiência, considerando a tecnologia embarcada e a melhoria da qualidade dos móveis, com certeza podemos recuperar uma boa parte do dinheiro das famílias disponível para consumo.

 

Nós estamos dispostos a fazer a nossa parte.

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