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Tem muita gente com olho mágico na porta de vidro

Por Ari Bruno Lorandi - 26 de Março 2022

Acontecem certas coisas no setor moveleiro que são claras e transparentes, porém algumas pessoas parecem não entender e não incorporam essas situações em seu plano de trabalho.

 

Vou citar três situações em que isso ocorre com mais frequência:

 

É comum ouvirmos queixas sobre as oscilações do mercado durante o ano. Claro que é difícil gerir uma empresa que não tenha vendas estáveis ao longo dos meses. Mas, se você observar o gráfico abaixo, que reflete a média da produção mensal ao longo dos últimos 19 anos, verá que o comportamento tem sido de alta, se mantendo positivo até junho, e de recuo na segunda metade do ano. 

 

 

Existem vários fatores que explicam isso, mas o principal é a concentração das vendas entre a Black Friday em novembro e as promoções no começo de janeiro. Satisfeita a demanda, o varejo recupera o estoque e recua nas compras até que o consumidor retorne às lojas.

 

Outra situação clara e cristalina: Os prejuízos das startups nativas de móveis.

 

A Mobly abriu seu capital em fevereiro de 2021, vendendo ações a R$ 21,00 e levantando R$ 812 milhões. No dia 04 de março as ações estavam cotadas a R$ 5,21, queda de 75,2% do preço inicial. 

 

 

A Westwing realizou seu IPO poucos dias depois, levantando R$ 1,6 bilhão vendendo as ações a R$ 11,85, e no começo de março valiam apenas R$ 2,29, queda de 80,6% sobre o valor precificado.

 

 

Pergunto: Se os acionistas estão amargando tamanho prejuízo – pelo menos os que compraram ações no dia da abertura de capital – como acreditar que os fornecedores destas startups possam ter lucro? Dá para imaginar eles repassando lucro para fornecedores e prejuízos para acionistas?

 

Por fim, as matérias-primas: convivíamos bem com o aglomerado até usá-lo de maneira inadequada em áreas úmidas. A imagem se deteriorou junto ao consumidor e tudo foi substituído por MDF 100%, como dizia a propaganda. Porém, uma matéria-prima muito mais cara. E quando o aglomerado voltou com inovação, chamado MDP, trouxe também um preço próximo ao do MDF. E o que aconteceu? Considerando a diferença de preço, desde então estamos com praticamente uma matéria-prima para móveis, o MDF. Para surpresa de ninguém, ficou pouca margem para produzir móveis populares, antes feitos de aglomerado.

 

 

Cá entre nós: Ainda é tempo de inovar, tornar os móveis mais atrativos para o consumidor e gerar lucro para a empresa e para isso não precisamos colocar olho mágico em porta de vidro, porque o que deve ser mudado é transparente, visível mesmo para quem tem apenas um olho. Eu acho.

 

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Ari Bruno Lorandi

Jornalista profissional com mais de 40 anos de atividades. Atua em estratégias de comunicação e marketing no setor moveleiro há 30 anos. É Diretor de marketing do Intelligence Group do Brasil, empresa de comunicação e marketing com sede em Curitiba. A empresa publica a revista Móveis de Valor, Móveis de Valor Norte & Nordeste, Anuário de Colchões Brasil e criou a primeira TV do setor moveleiro no mundo em atividade desde 2008.