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Escalada de preços dos insumos continua neste início de ano

Por Natalia Concentino - 12 de Fevereiro 2021
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Escassez de matéria-prima e aumentos expressivos nos preços dos insumos tem sido pauta recorrente na Móveis de Valor, desde meados do ano passado. Mas como o assunto ainda não esgotou, fizemos uma pesquisa em nosso portal para ouvir os fabricantes e apurar qual o percentual médio dos aumentos acumulados de janeiro de 2020 a janeiro de 2021. Também voltamos a solicitar informações dos principais fornecedores, em especial dos fabricantes de painéis. Mas a maioria preferiu não responder aos questionamentos. Os demais também mantiveram o usual direito de não se manifestar...

Os dados apurados na pesquisa, que teve 881 questionários respondidos, apontam números discrepantes. Mas, na média os aumentos de preços de painéis ficaram em 39,5% no período, tintas e vernizes subiram 30,6%, ferragens e acessórios 37,4% e embalagens 35,1%.

Segundo o especialista em mercado Leonardo Magalhães, os reajustes variam de empresa para empresa, dependendo de uma série de questões, como volume de compras, parceria entre as partes e até mesmo a dependência do industrial de determinado fornecedor. “Quando uma indústria depende de um único fornecedor de um insumo específico, ela fica sem referência de preço de mercado e acaba tendo que aceitar o que o fornecedor determina”, destaca, lembrando que a concentração de compra é tão perigosa quanto a concentração de vendas.

Leonardo Magalhães, especialista em mercado

Maic Caneira, diretor da Matic Móveis, aponta que os painéis acumularam reajuste de cerca de 35% no período. Já as ferragens subiram 65%, tintas e vernizes cerca de 20% e o papelão 130%. “Nossa análise leva em conta o preço pago em fevereiro de 2020 e o preço pago em fevereiro deste ano”, explica. Segundo ele, custos com mão de obra e a elevação em 1,3% na alíquota de ICMS também impactam o preço de vendas. “No caso do ICMS especificamente para as vendas realizadas dentro do estado de São Paulo”, pontua.

Vitor Guidini, gerente comercial da Cimol, afirma que os reajustes efetivos na fábrica ficaram acima de 20% para painéis, tintas, vernizes e acessórios. Já as ferragens tiveram reajuste de 50% e as embalagens subiram 100%. “Mas o impacto nos preços do produto final teve como principais vilões o papelão/embalagens e os painéis”, enfatiza.

Aureo Barbosa, presidente do Intersind

Aureo Barbosa, presidente do Intersind e da empresa Carolina Baby, concorda que para as indústrias que atuam com madeira e derivados, os maiores impactos vêm do papel, dos painéis de madeira e das ferragens, que tiveram aumentos muito acima da variação cambial. “Mas pior que aumento de preços é a falta de alguns insumos que deixaram de ser produzidos, como as chapas finas (3mm), que são usadas em fundos de roupeiros e cômodas”, lamenta, apontando ainda a alta nos custos do frete.

Leonardo Magalhães que acompanha custos de empresas em Minas Gerais e no Paraná, aponta números parecidos em relação aos painéis de madeira. “Na média as chapas aumentaram 23% neste período”, afirma. Mas os produtos químicos, plásticos e derivados do aço, que tem maior impacto do dólar, sofreram reajustes maiores. “Sem falar que a oferta ainda não se estabilizou. No caso dos tubos, metais e acessórios, a expectativa é de normalização só em agosto ou setembro”, destaca, lembrando que o campeão em aumento de preço é o papelão. “Tem casos de aumento de até 300% no período”, acrescenta. E esse é um item que impacta diretamente no preço do produto, já que não permite ganho de escala e não tem opção de substituição.

Outro aspecto apontado por Leonardo é o custo do frete marítimo, que quintuplicou no período. Aliás, neste aspecto a indústria colchoeira foi duramente afetada, já que insumos como TDI e Poliol, usados na produção de espumas são 100% importados.

Impacto nos colchões

Apesar da redução nos preços internacionais do TDI na China, pelo menos uma parte importante desta redução foi mitigada em razão do forte reajuste dos fretes internacionais, principalmente no transporte de produtos oriundos da China, observados a partir de meados de 2020. Os preços do frete mais que quintuplicaram nos últimos meses.

Preço de TDI recua na China, mas frete anula queda

Este fato impactou diretamente no custo de transporte e, consequentemente, um de seus efeitos negativos foi o de neutralizar a redução do preço do TDI no mesmo período. Soma-se a essa dramática situação o aumento do dólar e o custo do Poliol – outro componente utilizado na produção de espumas de poliuretano usadas nas indústrias de colchões e estofados – que continua em elevação e com forte tendência de escassez no curto prazo.

Fabricantes de colchões e estofados consultados pela Móveis de Valor consideraram improvável a queda no custo de produção de espumas no médio prazo. Lembraram também que a cadeia de produção de colchões – assim como de estofados – sofre ainda com a escassez e o aumento no preço de outros componentes, como papelão para embalagens, plásticos, tecidos e molas, entre outros.

Aliás, quase no final desta reportagem, fomos informados de novo reajuste no preço dos molejos, motivado por um reajuste de 40% no arame. “O momento é preocupante, pois há um sinal de queda de demanda e por outro lado uma pressão forte da elevação de custos em toda a cadeia produtiva”, destacou um fabricante consultado.

Leia: PREÇO DO AÇO PARA MOLAS DE COLCHÕES SOFRE NOVA ALTA DE 40%
leia: CUSTOS DOS INSUMOS PREOCUPAM MUITO AS INDÚSTRIAS DE COLCHÕES

Preço do móvel sobe

A consequência natural do aumento de preços dos insumos e de outros componentes como transporte e até mudança na alíquota de ICMS (caso de São Paulo e Rio Grande do Sul) é o aumento no preço do produto acabado. Embora os fabricantes reconheçam dificuldade de repassar de imediato os aumentos, destacam que parte já foi incorporada ao preço. “Em nossas análises de custos, os repasses são feitos em cima de tipo de produto, capacidade produtiva, mão de obra envolvida e outros detalhes importantes referente a produção”, destaca Vitor Guidini, lembrando que todos os repasses necessários foram feitos em comum acordo com os principais clientes. “Porém, isso nem sempre ocorre no momento ideal, gerando déficit de alguns dias ou até de um mês”, pontua o gerente comercial da Cimol.

Vitor Guidini, gerente comercial da Cimol

Aureo Barbosa defende que repassar os aumentos dos insumos para o produto acabado é uma questão se sobrevivência das indústrias. “Mas entendo que esses repasses variam muito de empresa para empresa e, em certos casos, até motivam a retirada de certos produtos de linha”, destaca.

Maic Caneira explica que os aumentos não são lineares e leva em conta uma série de variáveis, como a incidência de materiais que tiveram aumentos mais expressivos no preço. “Uma peça que leva mais vidro ou componentes em aço, teve aumento maior”, exemplifica.

Maic Caneira, diretor da Matic Móveis

Para Leonardo Magalhães, as empresas têm feito muitas manobras para evitar reajustes maiores, com a substituição de componentes (quando possível) ou a busca de ganhos de escala. “Mas nem sempre é possível segurar os preços, em especial porque outros custos impactam na composição, como mão de obra, que também aumentou, e custos com transporte”, lembra.  

Considerando a pesquisa de Índice de Preços ao Produtor (IPP), do IBGE, pelo menos parte do aumento de custos do ano passado foi repassada pela indústria. De janeiro a dezembro a alta chegou a 21,16%, com muita variação ao longo do ano, desde queda de 0,23% em fevereiro até alta de 4,14% em setembro e que se consolidou acima de 3 pontos percentuais em outubro e novembro, reduzindo a alta para 1,54% no último mês do ano.

Expectativas positivas

Apesar dos aumentos de preços e da falta de alguns insumos, a expectativa dos fabricantes ouvidos pela reportagem, e dos que participaram da pesquisa em nosso portal, é de que as vendas se mantenham aquecidas este ano. É o que revela 77,3% das respostas sobre expectativas em relação as vendas nos próximos meses.   

“Apesar da instabilidade econômica e política, estamos fazendo nosso dever de casa, investindo na indústria, em melhorias de processo, em treinamento das equipes e em lançamentos de produtos. Tudo isso para atender efetivamente as novas necessidades que surgiram com a pandemia”, destaca Vitor Guidini, lembrando que a eficiência em custos e novas oportunidades de negócios também estão no radar da empresa, que acredita em boa performance das vendas este ano.

Leonardo Magalhães acredita na estabilização do mercado no médio prazo e defende cautela das indústrias, a fim de manter a saúde financeira do negócio.

Para Maic Caneira, a regularização da oferta de matéria-prima parece estar próxima, mas a maioria dos preços não deve ceder. “O mercado deu uma freada agora em fevereiro, mas devemos entender que a bolha de consumo de meados do ano passado estava fora da curva”, destaca, lembrado que é importante manter as parcerias com os varejistas de forma a garantir um preço que rentabilize as duas partes e não desestimule o consumo. Opinião compartilhada por Aureo Barbosa para quem o mercado vai se equilibrar em função do poder de compra dos consumidores. “Mas os preços não baixarão jamais”, sentencia.

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Os custos de cada um

Sempre que se fala sobre índices de inflação – ou de custos – a primeira resposta seria: “depende”. Cada um percebe a inflação de maneira diferente. Para exemplificar, na formação de custos de um móvel é preciso considerar os itens e as suas variações de preços em determinado período para se chegar aos “custos”. E, mais, é provável que os “grandes” comprem com algum desconto e os “pequenos, eventualmente compram em revendas, pagando um adicional da intermediação. Isso explica por que alguns acreditam que a inflação anunciada pelo IBGE seria menor do que a real. E não são poucos que criticam em comentários no portal Móveis de Valor sobre isso. “Um pouco mais”, “No acumulado do ano chegou a 30%”, “21% ao mês a partir de maio” reagem os leitores sobre a alta dos móveis na indústria em 2020.

Apesar das variáveis apontadas acima para se concluir sobre o aumento “real” de preços de matérias-primas e insumos, fomos ao mercado medir a variação percebida no período entre janeiro de 2020 e janeiro de 2021. Para isso, enviamos questionário com nove questões para os fabricantes que recebem a revista Móveis de Valor. Retornaram devidamente preenchidos 881 questionários e descartamos outros 944 que retornaram com menos de 40% das questões respondidas.

E a inflação percebida na sua empresa, caso você não tenha participado da pesquisa, coincide com os números apontados pelos pesquisados?

Abaixo estão os números da tabulação:

 

 

 

 

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